Quando se trata da educação profissional um tema de grande relevância é o da relação entre saber e trabalho. A questão não é simples, pois envolve lidar com uma problemática propriamente epistemológica e termina por tocar em concepções há muito cristalizadas sobre o que é o trabalho e o trabalhar. Os saberes do trabalho se fazem presentes na tecnicidade dos atos no meio laboral e, como bem pondera e observa Alessandra Bender, “não são necessariamente verbalizados” (Bender, 2021, p. 147). Esse aspecto destacado por Alessandra Bender e a problemática descrita coloca exigências ao trabalho didático do docente na educação profissional, pois implica em
- A colocar o saber-fazer como referente central para a educação profissional e conferir à experiência laboral a primazia na relação entre teoria e prática, portanto, subordinando a teoria à prática. Quanto a isso, o trabalho didático do professor deve seguir no sentido de acolher os saberes do trabalho e evitar seu contato com o que pode contradizê-los: os saberes científicos.
- B abandonar uma visão estreita dos saberes, assimilados aos saberes científicos e formais, e reorientar o olhar na direção da compreensão de que no exercício profissional também se constituem saberes tecidos pela experiência individual e coletiva dos homens e mulheres no trabalho. Esses saberes precisam ser reconhecidos, valorizados e investidos, aspectos sobre os quais o trabalho didático e a ciência podem aportar uma contribuição importante.
- C considerar que os saberes científicos são autônomos em relação à prática e considerar que os saberes práticos, tecidos nas situações de trabalho, são também autônomos em relação aos saberes científicos. Preservar essa distância é o essencial do trabalho pedagógico daqueles que lecionam na educação profissional.
- D evitar essas compreensões equivocadas que buscam valorizar a prática, o saber-fazer, a inteligência prática dos trabalhadores, visto que o verdadeiro saber é aquele que se pode relatar e transmitir. O trabalho didático do professor na educação profissional deve, portanto, se pautar pelo aspecto teórico e científico, sendo esse seu ponto de partida e seu ponto de chegada.
- E examinar os saberes que podem ser objeto de verbalização pelo trabalhador, pois os que não podem ser verbalizados são impossibilitados de assumir o status de saber, sendo intuição ou mero senso comum. O próprio da educação profissional é o trato com os saberes científicos, disciplinares e formais, são esses saberes que devem ser considerados pelos docentes que desejam atuar nessa modalidade da educação.