Said Ali (2001), ao estudar aspectos da sintaxe da Língua Portuguesa, examina, entre outras diversas categorias do verbo, as funções que os tempos – presente, passado e futuro – assumem na construção dos sentidos dos enunciados, o que intervém diretamente nos processos de compreensão e de produção dos textos. Ao tratar do presente, no indicativo, o autor observa que o seu uso remete a uma ação que se passa durante o tempo – breve ou longo – em que se discorre sobre um assunto, mas não limitado ao instante fugaz da realização do enunciado. Noutros termos: “não haveria enunciado sem a cognição e portanto sem a preexistência do fato; e, por outra parte, terminado o enunciado verbal, para o qual bastou um só segundo, o fato nem por isso deixará de perdurar ainda algum tempo” (SAID ALI, 2001, p. 310). Diante dessa observação, o linguista examina os complexos fatos da língua portuguesa, procurando descrever as muitas expressões verbais que se servem desse tempo e, então, classificá-las segundo o sentido que estabelecem.
Quanto às propostas de Said Ali, relativas às funções do uso do tempo presente no modo indicativo, que opção expõe, corretamente, em conjunto (descrição, classificação e exemplificação), as ideias do autor?
- A Ainda que atos pertencentes ao domínio do passado devam ter, como forma de expressão, o verbo no pretérito, é possível enunciá-los, às vezes, por meio do tempo presente, do presente-durativo, a fim de produzir, no espírito do ouvinte, o efeito de impressão mais viva daquelas imagens temporalmente remotas e apagadas, que estão com menos presença na consciência em relação às atuais, como em: “A terra em si é mui estéril, sem água, e toda a que se ali bebe, se traz em camelos [...]” (João de Barros, Da Ásia, déc. 2, 1628, f. 189).
- B Sempre que se empregar a forma do presente para denotar ações que ainda hão de ser realizadas – o que tem a vantagem de ser uma forma mais simples em relação às do futuro e de ser recurso expressivo de linguagem para produção de impressão mais viva ao expor os sucessos vindouros como se já fossem realidade, sugerindo, assim, ao ouvinte, a certeza do cumprimento das ações sem as incertezas do futuro, teremos o presente-futuro, como em: “— Não venha, não; amanhã falaremos” (Machado de Assis, Dom Casmurro, 1998, p. 94).
- C Se se entender que a forma do presente do indicativo implica ação executada numa série de atos intermitentes de mesma espécie, que se repetem costumeiramente em intervalos mais ou menos longos, sem, entretanto, abranger necessariamente o agora, teremos o presente frequentativo, como em: “[...] Senhor, como empregais e despendeis tantas vezes o preço infinito de vossas palavras [...] com esse infeliz homem?” (Vieira, Sermão da Primeira Dominga de Quaresma, VII, 86).
- D Quando se souber ou se imaginar que o ato ora em via de execução, expresso pelo presente do indicativo, data de longo tempo e promete continuar por espaço igualmente longo ou indeterminado, sem solução de continuidade, ocorrerá a expressão verbal em função de presente-histórico, como em: “O sertão é do tamanho do mundo” (Guimarães Rosa, Grande sertão veredas, 1994, p. 96).