Questões de História do Brasil (História)

Limpar Busca

Leia o texto a seguir.


Um dos textos historiográficos mais conhecidos acerca da formação da nação brasileira é como se deve escrever a história do Brasil, do viajante e biólogo Phillipe Von Martius. Este opúsculo, como bem sabemos, é de suma importância para o projeto de escrita da história do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) na medida em que responde às inquietações decorrentes do processo de constituição do Estado nacional. A fórmula de Martius, narrativa, permeada pelo “encontro” entre as três raças, abriu um campo representativo da nacionalidade, sob o domínio da estética romântica.


SANDES, Noé Freire; ARRAIS, Cristiano Alencar. História e memória em Goiás no século XIX uma consciência da mágoa e da esperança. VARIA HISTÓRIA, Belo Horizonte, vol. 29, nº 51, p.847-861, set/dez 2013, p. 03.



O texto se refere a uma historiografia que forjou uma suposta convivência pacífica entre

  • A o indígena, o escravo e o colonizador.
  • B o africano, o europeu e o brasileiro.
  • C o negro, o branco e o mestiço.
  • D o senhor, o colono e o nativo.

Ao analisar o Estado brasileiro nas décadas iniciais da República, a professora Cláudia Viscardi, afirmou:

1) Muito embora os setores relacionados direta ou indiretamente a exportação do café fossem politicamente hegemônicos, oligarquias ditas de segunda ou terceira grandeza (elites fluminenses, gaúchas, baianas, etc.) tiveram importância significativa nos processos de decisão política em curso;

2) Muito embora a aliança entre Minas e São Paulo tenha sido hegemônica, ela não impediu a construção de eixos alternativos de poder por parte de outros setores a ela não vinculados;

3) A despeito do Estado Nacional ter a sua sustentação vinculada ao contínuo fluxo de capital estrangeiro para o país - cujo principal meio era a exportação do café - a política econômica implantada visava também garantir a estabilidade das finanças públicas e o atendimento a compromissos financeiros junto aos credores internacionais, o que muitas vezes fez com que os interesses corporativos dos cafeicultores fossem contrariados.
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. O federalismo oligárquico brasileiro: uma revisão da "política do café-com-leite". In: Anuario IEHS: Instituto de Estudios histórico Sociales. n. 16, 2001, p. 74


Considerando as reflexões de Viscardi, pode-se observar que, nas primeiras três décadas do século XX,

  • A as alianças políticas eram forjadas em cada momento eleitoral, o que evidencia a instabilidade do pacto político entre as oligarquias mineiras e paulistas.
  • B a política “Café com Leite” consolidou-se, tendo em vista que mineiros (produtores de leite) e paulistas (produtores de café) alternaram-se no poder sem interrupções.
  • C os cafeicultores foram os grandes beneficiados das ações governamentais, uma vez que o orçamento da União privilegiava a manutenção de preços elevados para o café.
  • D alguns estados de segunda e de terceira grandeza rebelaram-se contra as oligarquias hegemônicas, romperam com a União e criaram governos paralelos ao Governo Central.

Para trabalhar as relações do homem com a natureza, uma professora da escola básica optou por discutir o tema da paisagem do sertão nordestino a partir do fragmento do poema Secas de Março (versos sem os tons jobinianos) a seguir.

É pau é pedra é o fim do caminho É um metro é uma légua é um pobre burrinho  É um caco de vida é a vida é o sol  É a dor é a morte vindo com o arrebol  É galho de jurema é um pé de poeira  Cai já, bambeia é do boi a caveira  É pé de macambira invadindo a cachoeira  É vaqueiro morrendo é a reza brejeira  É angico é facheiro é aquela canseira  É farelo é um cisco é um resto de feira  É a fome na porta é um queira ou não queira  Na seca de março é a fuga estradeira  É o pé é o chão é a terra assadeira  É menino na mão e mais dez na traseira  É um Deus lá no céu Padre Cíço no chão  É romeiro rezando dentro dum caminhão  É o filho disposto partindo sozinho  [..] QUIRINO, Jessier. Prosa Morena. Recife: Bagaço, 2001, p. 89-90.

Após a leitura dos versos, a professora explicou aos alunos que a relação entre paisagem e história se faz presente, uma vez que, no texto, 

  • A constrói-se, discursivamente, uma imagem do que seja o sertão, apresentando-o como um espaço homogêneo e, historicamente, associado ao Nordeste.
  • B são evidenciados os elementos característicos do mundo natural presente no interior do Nordeste, criando as bases históricas para fixação dos elementos genuínos da região.
  • C idealiza-se uma imagem sobre o sertão nordestino a partir de conflitantes representações sobre esse espaço, expressando abordagens políticas historicamente divergentes.
  • D são denunciadas as condições de vida presentes no sertão nordestino, desconstruindo a imagem de que a região é dominada por práticas coronelísticas.

O movimento pelas “Diretas Já” (1983-184) fez emergir experiencias novas na vida cotidiana da sociedade brasileira. Segundo Edison Bertoncelo,


As oposições simbólicas construídas ou reinterpretadas nos processos de ritualização (de um lado, verde e amarelo = massas = democracia = sociedade melhor; de outro, preto = elites políticas = autoritarismo = sociedade injusta) impactaram fortemente sobre os padrões dominantes de classificação que informavam as estruturas políticas e relações sociais. Questionou-se o discurso incrustado na sociedade brasileira que associava as “massas” à desordem e à falta de autoridade e que fazia da tutela política sobre a sociedade um princípio básico dos regimes políticos (categorias essas que foram centrais às reivindicações de legitimidade do golpe militar de 1964). Por outro lado, erigiu-se a praça pública como lugar fundamental da luta política e da constituição autônoma de atores coletivos.

BERTONCELO, E. R. E. "Eu quero votar para presidente": uma análise sobre a Campanha das Diretas. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 76, 2009, p. 191.


À luz da interpretação contida nesse fragmento textual e nas informações sobre o tema, o movimento pelas “Diretas já” 

  • A foi manipulado por grupos diversos políticos que, naquela conjuntura, usaram a praça pública como um palco para defesa de propostas autoritárias.
  • B exigiu um regime político democrático, a redefinição dos contornos do espaço público e a construção de um Estado cuja legitimidade se assentasse no apoio popular.
  • C trouxe o restabelecimento imediato das eleições diretas para Presidente e dificultou as condições para que os interesses privados prevalecessem no espaço público.
  • D redefiniu a vida institucional do país, criando uma cultura incorporada, por mais de noventa por cento da população nacional, de que a praça pública é o espaço das lutas contrárias aos regimes autoritários.

Ao discutir a sociedade brasileira durante o século XIX, a historiadora Lilia Schwarcz analisa:



A valorização do pitoresco da paisagem e das gentes, do típico em vez de genérico, encontrava no indígena o símbolo privilegiado. [...] Por oposição ao negro, que lembrava a escravidão, o indígena permitia identificar uma origem mítica e unificadora. [...]

A natureza brasileira também cumpriu função paralela. Se não tínhamos castelos medievais, templos da Antiguidade ou batalhas heroicas para lembrar, possuíamos o maior dos rios, a mais bela vegetação. [...] Por mais que tenha partido de d. Pedro I e de Bonifácio a tentativa de elaborar – junto com Debret e outros participantes da Missão Francesa – uma ritualística local, foi com d. Pedro II e seu longo reinado que se tornaram visíveis a originalidade do protocolo e o projeto romântico de representação política do Estado.


SCHWARCZ, Lilia. As Barbas do Imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.140.



Considerando esse fragmento, percebe-se que a identidade nacional brasileira, no século XIX, foi construída

  • A por meio da valorização das heranças culturais dos indígenas e dos negros.
  • B por intermédio de elementos da natureza e de tipos humanos representantes de uma cultura.
  • C por meio de referências europeias existentes nas províncias desde a colonização.
  • D por intermédio de elementos simbólicos, consensuais e harmônicos que incluíssem todas as raças.