Prova do (2012) - Questões Comentadas

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Sobre Lembrança do mundo antigo, apresentado a seguir, que integra Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar que o poema:

Clara passeava no jardim com as crianças. O céu era verde sobre o gramado, a água era dourada sob as pontes, outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados, o guarda-civil sorria, passavam bicicletas, a menina pisou a relva para pegar um pássaro, o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Clara. As crianças olhavam para o céu: não era proibido. A boca, o nariz, os olhos estavam abertos.Não havia perigo. Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos. Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas, esperava cartas que custavam a chegar, nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!! Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
  • A opõe a um mundo injusto e brutal – que se cobria de sangue, quando o poeta o concebeu – a tranquilidade, os atos simples da vida que parecem mitológicos, fábulas de um passado extinto.
  • B integra a fase surrealista do poeta, na qual ele elabora uma síntese de elementos quotidianos tratados como fantásticos e descreve cenas de absoluta suprarrealidade.
  • C é um retrato fraternal e solidário de um tipo de experiência social vivida largamente na década de 1940, quando o poeta o concebeu. Experiência essa que desconhece a tristeza e abraça o mais veemente lirismo, calcado na experimentação linguística.
  • D retrata o mundo caduco que se anunciou com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, mas o poeta entusiasma-se com uma nova ordem social que deixa de ser imaginária e se transforma em realidade palpável.
  • E registra fotograficamente o cotidiano da década de 1930 – época em Sentimento do mundo foi publicado –, o terra-a-terra mais elementar, levando a fotografia a assumir elevações de símbolo.
Assinale a opção que caracteriza corretamente Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade:
  • A Prevalecem no livro longas e densas descrições sem comentários de um mundo absurdo e sem sentido, como se os poemas fossem espelhos da vida circunstante.
  • B O poeta troca o registro meramente descritivo pela acentuação do humor, presente em tantos poemas. Neles, a “vida besta” se dilui como algo exterior para interiorizar-se, fazer-se estado de espírito.
  • C Há no livro um misto de condenação e de esperança: condenação do mundo errado, esperança de um mundo certo, cheio de beleza e de justiça. O mundo caduco é enterrado em numerosos poemas, e entrevê-se, utopicamente, a vida futura.
  • D É um livro de suavização: embora ainda se irrite vez por outra, ou ressuscite o complexo de culpa, o poeta se entrega ao amor crepuscular, pacifica-se dos velhos ressentimentos e declara que o espetáculo do mundo pede para ser visto.
  • E Mudando os próprios rumos, o poeta recrimina-se diante dos morticínios, da guerra, da trucidação coletiva e por não ter escutado “voz de gente”, isto é, por não ter participado dos problemas de seus semelhantes.
Sobre Til, de José de Alencar, é correto afirmar que:
  • A Alencar acentua um perfil feminino esboçado sob a visão romântica, e mesmo romanesca, do comportamento afetivo e social da mulher. São passíveis e merecedores de análise, em primeiro plano, a presença da mulher numa sociedade em mudanças, marcada pela ascensão da classe burguesa de comerciantes e banqueiros enriquecidos, honesta ou inescrupulosamente, ao lado da classe aristocratizada ligada à economia rural, tanto uma quanto a outra à procura de posições de relevo na vida pública.
  • B o romance se apresenta, desde as suas primeiras páginas, sob a pressão pungente da nostalgia, do fatalismo, da resignação. Seu argumento depurado ou reduzido ao essencial flui sobre inspirações líricas, também envolvendo o épico e o histórico. O herói e a heroína passam a traduzir a significação mais profunda da sentimentalidade e do destino de um povo mestiço – aquele que habitará a pátria do autor.
  • C o romance, escrito em linguagem marcada por certa objetividade informativa, quebra a monotonia romântica pelos apostos caracterizadores das qualidades e virtudes das coisas descritas. Dois são os interlocutores: o homem do interior fixado na terra, conhecedor dela e de suas possibilidades, e o homem da cidade, portador da curiosidade de recém-chegado que comenta, direta ou indiretamente, o procedimento do homem do interior.
  • D Alencar produz uma espécie de saga do desbravamento do interior paulista e da fixação do homem na terra, como se repetisse a aventura histórica da “penetração” sertão adentro, ainda sob a sedução do Eldorado. As personagens, verdadeiras sucessoras dos primitivos desbravadores, respiram uma atmosfera épica, mas não abrem mão das relações românticas pautadas pelas aparências de pudor e severidade de costumes da sociedade.
  • E Alencar amplia o cenário da representação do Brasil, não dispensando o lendário e o mítico, embora seu objetivo fundamental seja dimensionar o homem e a paisagem interiorana, de maneira abrangente e contrastante. O meio físico no romance é cenário para o grande impulso da vida e da ação de heróis portadores de gestos cavalheirescos, movidos pelo destemor, pelas generosidades e pelo amor não raro contido, marcado pela renúncia, pela abnegação.
Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica do romance Til, de José de Alencar:
  • A “Dentro do quadro global do regionalismo antemodernista é nele que se reconhece imediatamente um valor que transcende a categoria em que a história literária sói fixá-lo. É o artista enquanto homem que tem algo de si a transmitir, ainda quando pareça fazer apenas documentário de uma dada situação cultural.” (Alfredo Bosi).
  • B “No sertão, a literatura provém dele mesmo, e a que aí encontrou o autor classificou de ‘literatura pura, bela, verdadeira, real’, quer dizer, sem as deformações do racional e o prejuízo do valor primeiro da palavra. No perfil que traçaria do sertanejo, ele vê um captador da poesia que emana em torno deste improvisador, cuja criação é logo absorvida pela memória coletiva que assim a retransmite.” (José Aderaldo Castello).
  • C “O cunho de novidade que lhe registraram os contemporâneos provém do realismo e certa graça com que fixou os costumes sertanejos, da descrição e, alguma vez, quase explicação dos cenários da história, da leveza e naturalidade dos diálogos espontâneos e vivos que pontuam a narrativa, alguns deles suficientes à caracterização das personagens, do registro de brasileirismos peculiares à região ou de particularidades do falar local, e, finalmente, à maneira natural e simples com que movimentou personagens e fatos do romance.” (Afrânio Coutinho).
  • D “O romance desenvolve o princípio de que a vida dos homens é uma história concebida por Deus. A trama da escrita divina pressupõe contínua luta entre forças adversas, representadas pelos ímpetos da maldade e da ternura. Sendo uma alegoria metafísica, o romance possui dois aspectos distintos e complementares: por um lado, será uma estória de aventura e ódio, cuja origem se concentra num caso de violência sexual; por outro, será a fábula da conversão da filha do estupro em agente de forças positivas da natureza.” (Ivan Teixeira).
  • E “Os seus livros começam por uma situação de equilíbrio e bonança, definida principalmente pela descrição eufórica da paisagem em que se vai desenrolar a ação; a partir daí, procura surpreender no personagem o nascimento da paixão, cujo percurso e estouro descreverá, mostrando que a euforia inicial é como a placidez aparente do sertão e do sertanejo.” (Antonio Candido).
Sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é correto afirmar que:
  • A o livro explora uma estrutura revolucionária na qual estão presentes a imaginação sem fim, o telegrafismo das rupturas sintáticas, o simultaneísmo, a sincronia, as ordens do inconsciente e os neologismos copiosos. São capítulos-instantes, capítulos-relâmpagos, capítulos-sensações que propõem uma colagem rápida de signos, sob processos diretos, sem “comparações de apoio”.
  • B a narrativa explora uma tensão geradora que não se concentra tanto no eu-narrador quanto nas notações irônicas do meio provinciano. Sente-se um escritor ainda ocupado na formalização da própria memória, tratada por um tipo de distanciamento que vai desaguar no romance de costumes.
  • C o autor emprega o recurso do distanciamento, experimentando também outras técnicas que mostram como as possibilidades narrativas podem levar à compreensão do mundo. O livro apresenta uma estrutura informal e aberta, tecida de lembranças casuais, fatos diversos e cortes digressivos entre banais e críticos da personagem-autor, que não transcende nunca a filosofia do bom senso burguês.
  • D na prosa narrativa de Machado de Assis, o que parece apenas espontâneo e instintivo é, no fundo, consciente e, não raro, polêmico. A palavra, para Machado, serve de anteparo entre o homem, as coisas e os fatos. As ocorrências da vida são narradas com uma animação tão simples e discreta que as frases jamais brilham por si mesmas, isoladas e insólitas, mas deixam transparecer naturalmente a paisagem, os objetos e as figuras humanas.
  • E o romance é concebido como sintoma de uma crise de amplo espectro: crise da personagemego, cujas contradições já não se resolvem no casulo intimista, mas na procura consciente do supraindividual; crise da fala narrativa, afetada agora por um estilo ensaístico, indagador; crise da velha função documental da prosa romanesca.