Prova do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IF-PI) - Professor - Física - IFPI (2022) - Questões Comentadas

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ASA BRANCA



Quando oiei' a terra ardendo

Qual fogueira de São João

Eu preguntei' a Deus do céu, uai

Por que tamanha judiação?

Eu preguntei' a Deus do céu, uai

Por que tamanha judiação?

Que braseiro, que fornaia'

Nenhum pé de prantação'

Por farta' d'água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

Por farta' d'água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

Inté' mesmo a asa branca

Bateu asas do sertão

Entonce' eu disse: adeus, Rosinha

Guarda contigo meu coração

Entonce' eu disse: adeus, Rosinha

Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua

Numa triste solidão

Espero a chuva cair de novo

Pra mim vortar' pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo

Pra mim vortar' pro meu sertão

Quando o verde dos teus óio'

Se espaiar' na prantação'

Eu te asseguro, não chore, não, viu

Que eu vortarei', viu, meu coração

Eu te asseguro, não chore, não, viu

Que eu vortarei', viu, meu coração


Composição: Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga (Disponível em: https://www.google.com/search?q=asa+ branca+letra+original. Acesso em: 27 jun. 2022). 



Pelo entendimento que se faz do texto, percebe-se que: 

  • A há uma crítica ferrenha às queimadas e, principalmente, aos caçadores de asa branca, ave símbolo do sertão brasileiro.
  • B há uma ironia em relação ao modo de falar nordestino, mostrando o coloquialismo da língua portuguesa em um patamar inferior.
  • C a intenção dos autores é mostrar que, embora o falar nordestino seja bonito e perfeitamente compreensível, deve-se utilizar a norma padrão da língua portuguesa na elaboração das músicas.
  • D o eu lírico foi embora, fugindo das condições adversas provocadas pela seca, mas, assim que tudo melhorar, vai buscar a companheira Rosinha.
  • E a volta do eu lírico para o sertão está condicionada ao fator geográfico.

MONTE CASTELO



1. Ainda que eu falasse a língua dos homens

2. E falasse a língua dos anjos,

3. Sem amor eu nada seria. 



4. É só o amor,

5. É só o amor

6. Que conhece o que é verdade.

7. O amor é bom, não quer o mal.

8. Não sente inveja ou se envaidece.



9. O amor é fogo que arde sem se ver.

10. É ferida que dói e não se sente.

11. É um contentamento descontente.

12. É dor que desatina sem doer.  



13. Ainda que eu falasse a língua dos homens

14. E falasse a língua dos anjos,

15. Sem amor eu nada seria.



16. É um não querer mais que bem querer.

17. É solitário andar por entre a gente.

18. É um não contentar-se de contente.

19. É cuidar que se ganha em se perder.



20. É um estar-se preso por vontade.

21. É servir a quem vence o vencedor.

22. É um ter com quem nos mata lealdade.

23. Tão contrário a si é o mesmo amor. 



24. Estou acordado e todos dormem

25. Todos dormem, todos dormem.

26. Agora vejo em parte.

27. Mas então veremos face a face. 



28. É só o amor, é só o amor.

29. Que conhece o que é verdade. 



30. Ainda que eu falasse a língua dos homens

31. E falasse a língua dos anjos,

32. Sem amor eu nada seria. 


Renato Russo, com adaptação de trechos bíblicos e “Soneto 11”, de Luís de Camões.

(Disponível em: https://www.vagalume.com.br/legiaourbana/monte-castelo.html Acesso em: 27 jun.2022). 



Pode-se afirmar que a repetição da palavra “É”, no início dos versos 16 a 22, caracteriza um recurso linguístico denominado: 

  • A assonância.
  • B polissíndeto.
  • C onomatopeia.
  • D aliteração.
  • E anáfora.

SALOMÉ E O CARNAVAL



Salomé tem o nome e já teve a glória.

Há muitos anos vive, com outros biscateiros e ambulantes, num porão de casa velha na rua Ipiranga – o que resta dos escombros do passado do Rio de Janeiro, que continua marchando para o que os entendidos chamam de progresso. Seu canto, onde deita o corpo macerado por muitos tormentos, é um compartimento escuro, pequeno, mal cabendo uma cama de solteiro, um armário magro e sua mesinha de passar roupas.

[...] 


(BRASIL, Assis. Salomé e o Carnaval. In Caçuá, coletânea de contos piauienses. Teresina: Fundapi, 2020. p. 41) 



Sobre os processos de flexão observados em palavras presentes no texto, podemos afirmar: 

  • A “Marchando” é uma flexão da palavra marcha.
  • B “Biscateiros” apresenta somente flexão de gênero.
  • C “Mesinha” não apresenta flexão de gênero.
  • D “Biscateiros” e “ambulantes” apresentam tipos diferentes de flexão.
  • E “Porão” apresenta flexão de grau.

TODA ALEGRIA CANSADA MERECE UMA BÊNÇÃO



[...]

A maioria das pessoas leva um pedaço de casa nas costas: tudo aquilo que é necessário e que inclui objetos diários da vida prática, que limpam, alimentam o corpo, descarregam males da alma, preservam a saúde, pedaços de orações, minúcias rasuradas da Bíblia, escova de dente, comida-rápida: que as lembre do quão distante de casa estão e como será impossível voltar lá a qualquer momento. E as suas inflexões carregadas, dobradas, chiadas, esparsas e perversas, desafiam minha determinação. As pessoas carregam uma segunda-feira irremediável a tiracolo. Algumas se arrastam, poucas parecem querer parar. O amor tem pressa, mas não chega a lugar algum.

[...]


(Raimundo Neto. Caçuá, coletânea de contos piauienses. Teresina: Fundapi, 2020. p. 183)



Após a leitura e análise do texto, podemos AFIRMAR que:

  • A o uso do sinal de dois pontos não poderia ser substituído por vírgulas ou travessões, pois mudaria o sentido expresso no texto.
  • B os verbos “limpam”, “alimentam”, “carregam” e “arrastam” referem-se a “objetos diários da vida prática”, por isso se encontram no plural.
  • C no trecho “que as lembre”, a concordância do verbo está relacionada ao termo “um pedaço de casa nas costas”.
  • D na sequência “descarregam males da alma, preservam a saúde, pedaços de orações, minúcias rasuradas da Bíblia”, as palavras destacadas deveriam estar empregadas obrigatoriamente no singular.
  • E o sujeito, implícito, de “não chega a lugar algum” é o próprio narrador.

todos os dias são um deserto

isto também é uma fome



outra fome



o carcará persegue

os dias, as imagens vindas

dos dias, do alto



a sombra

e algum naufrágio depois do céu



e isto é imenso


(Lima, Manoel Ricardo de. O Método da Exaustão. Rio de Janeiro: Garupa, 2020, p.32).



Sobre o poema em questão, podemos AFIRMAR que: 



  • A o termo "isto" tem como referente o termo "carcará", utilizado no poema em sentido denotativo.
  • B a polissemia presente no texto é limitada à primeira estrofe, configurando-se no uso conotativo da palavra “deserto”.
  • C o principal elemento estilístico para a construção do texto é a utilização de parônimos.
  • D o caráter polissêmico do texto é tão metafórico que seus substantivos apresentam um sentido conotativo.
  • E “deserto” e “imenso” apresentam, no texto, uma relação semântica de antonímia.