Prova do Instituto Federal Norte de Minas Gerais (IFN-MG) - Professor EBTT - Filosofia - Instituto Verbena - Universidade Federal de Goiás (2024) - Questões Comentadas

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Uma adequada conceituação de técnica é importante para aqueles que exercem a profissão docente no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. É isso o que nos mostra Alessandra Bender no artigo “Trabalho e educação profissional: refletindo sobre os conceitos de técnica e tecnologia”, publicado na revista Laborare, em 2021. Conforme a autora, técnica deve ser compreendida como

  • A reflexão sobre a prática, no sentido que é própria do ser humano a capacidade de fazer uso da razão e de julgar, logo envolve discernir e refletir sobre o fazer.
  • B adaptação dos seres humanos ao meio ambiente e aos espaços sociais nos quais vivem e trabalham.
  • C etapa da evolução circunscrita à pré-história que, na sociedade contemporânea, perdeu seu valor e foi substituída pela tecnologia.
  • D capacidade de teorizar e refletir substantivamente sobre o mundo, com a consequente formalização do conhecimento e sua transmissão.
  • E intervenção qualificada no mundo para a produção da existência, sendo algo próprio do ser humano e comum aos diferentes tipos de atividade laboral existentes.

No campo educacional, uma perspectiva teórica e metodológica de grande relevância é a da educação politécnica. A educação politécnica representa uma

  • A modalidade de educação na qual os conteúdos das disciplinas escolares estão voltados à formação acadêmica das elites intelectuais, daí seu distanciamento das questões de ordem prática correspondentes ao domínio técnico de processos produtivos.
  • B perspectiva teórica e metodológica derivada das elaborações do sociólogo alemão Max Weber; refletindo sobre a diferença entre o agir racional com relação aos fins e o agir racional com relação aos valores, Weber demonstrava que essa separação, entre fins e valores, era equivocada, derivando daí a necessária unidade do ensino escolar.
  • C diretriz geral de organização do trabalho pedagógico na instituição escolar técnica e profissional na qual os conhecimentos teóricos ocupam lugar secundário face aos conhecimentos e aos elementos de ordem técnica e prática.
  • D concepção de educação crítica ao dualismo entre ensino geral, de natureza acadêmica, e o ensino profissional, que busca instituir uma formação na qual as dimensões teórica e prática do conhecimento são tratadas de maneira unitária, habilitando o educando às múltiplas formas do trabalhar e dos aspectos técnicos, estéticos, políticos e éticos que os envolvem.
  • E metodologia didática oriunda do pensamento positivista, de modo que a educação politécnica postula uma formação plural no domínio dos diferentes campos de conhecimento humano e de sua aplicação prática, mas ao mesmo tempo formaliza e preconiza a incomunicabilidade entre esses diferentes campos de conhecimento.

Leia o trecho a seguir.


“Não há docência sem discência.”


FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 25. 



Compreender a natureza das relações que tem curso em um processo formativo é essencial para a docência. Paulo Freire é um autor que discute com muita propriedade a questão, como bem resume a citação destacada. Com base nas reflexões de Paulo Freire, “não há docência sem discência” porque

  • A o professor, quando ensina, o faz sempre na presença dos discentes, de modo que os docentes devem necessariamente considerar os alunos no processo de ensino e aprendizagem.
  • B o ensino é um processo complexo e multifacetado, no qual as normas institucionais, o currículo, as condições da escola e sua infraestrutura são determinantes para o êxito dos educandos.
  • C o ato de ensinar, no processo pedagógico, institui aprendizados mútuos aos que formam e aos que estão sendo formados, por isso o professor aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.
  • D os indivíduos, em uma escola ou em um espaço educativo qualquer no qual estão na condição de aprendizes, sabem mais do que aqueles que ensinam, pois os primeiros possuem experiência, enquanto os últimos, limitam-se à teoria.
  • E os professores, ao desenvolverem sua prática profissional, aplicam os conhecimentos que adquiriram em sua formação inicial e com isso podem contornar as dificuldades presentes no processo pedagógico.

A noção de que o trabalho pode se configurar como um balizador das práticas formativas é bem estabelecida no debate sobre a educação técnica e profissional no Brasil. Nesse domínio, o trabalho como princípio educativo corresponde a uma concepção tributária do pensamento

  • A deweyano.
  • B gramsciano.
  • C vigotskiano.
  • D weberiano.
  • E piagetiano.

Leia o texto a seguir.

Certa vez, numa escola da rede municipal de São Paulo que realizava uma reunião de quatro dias com professores e professoras de dez escolas da área para planejar em comum suas atividades pedagógicas, visitei uma sala em que se expunham fotografias das redondezas da escola. Fotografias de ruas enlameadas, de ruas bem postas também. Fotografias de recantos feios que sugeriam tristeza e dificuldades. Fotografias de corpos andando com dificuldade, lentamente, alquebrados, de caras desfeitas, de olhar vago. Um pouco atrás de mim dois professores faziam comentários em torno do que lhes tocava mais de perto. De repente, um deles afirmou: “Há dez anos ensino nesta escola. Jamais conheci nada de sua redondeza além das ruas que lhe dão acesso. Agora, ao ver esta exposição de fotografias que nos revelam um pouco de seu contexto, me convenço de quão precária deve ter sido a minha tarefa formadora durante todos estes anos. Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico, social, dos educandos?”

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 154.


O trecho foi retirado do livro Pedagogia da autonomia, de autoria de Paulo Freire. O referido trecho assinala um aspecto marcante da concepção freiriana de educação ao passo que destaca uma situação cotidiana no exercício da docência. Com base nessa concepção de educação e no que traz o trecho em destaque, a atuação dos educadores exige um

  • A conhecimento que vai além da ordem intelectual, compreendendo ainda uma postura ética e didaticamente consciente que ensinar envolve considerar a importância do contorno ecológico, social e econômico no qual educandos e educadores vivem e trabalham.
  • B modo muito específico de orientação da prática profissional, pois largamente balizada e validada pela intuição dos educadores ao sabor dos eventos que tem lugar no curso do desenvolvimento do seu trabalho na escola.
  • C raciocínio crítico e uma postura reflexiva, notadamente e porque se deve separar claramente aquilo que é de ordem contextual e de natureza socioeconômica daquilo que é o trabalho pedagógico realizado pela escola e por cada um de seus professores.
  • D posicionamento explícito a favor de uma educação que privilegie os conteúdos de ensino das diferentes matérias escolares, visto que é pela apropriação desses conteúdos que os alunos estarão habilitados ao ingresso no ensino superior.
  • E exercício contínuo de ação-reflexão-ação que exige secundarizar o conhecimento propriamente escolar e privilegiar os saberes, práticas e ritos da comunidade em que os educandos estão inseridos, vivem e trabalham.