Prova da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC-BA) - Professor de Educação Indígena - IBFC (2023) - Questões Comentadas

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Atente a definição do dicionário Houaiss sobre licença poética, em sua terceira acepção: “liberdade de o escritor utilizar construções, prosódias, ortografias, sintaxes não conformes as regras (...)”. Importa ressaltar que essa liberdade não está restrita apenas aos textos verbais. Ela ocorre também em textos não verbais e mistos. Observe as duas imagens de capa da obra “Iracema” de José de Alencar, e analise as afirmativas a seguir.
Fonte: Livraria Editora Pauliceia (1927). Imagem relacionada à questão do Questões Estratégicas

Fonte: Edições Câmara (2018). Imagem relacionada à questão do Questões Estratégicas


I. A capa de 1927 representa nitidamente o empoderamento feminino da mulher indígena no início do século XXI.
II. A capa de 2018, apesar de infantilizada, é mais fiel à imagem da indígena, ainda que esteja presa a um estereótipo.
III. A capa de 1927 apresenta uma índia com traços, roupas e penteado que remetem à sociedade europeia do início do século XX. Pode-se afirmar que ela não retrata a realidade. Essa capa demonstra nitidamente a tentativa de europeização do indígena da época.
Assinale a alternativa correta.
  • A Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
  • B Apenas as afirmativas I e III estão corretas
  • C Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
  • D Apenas a afirmativa I está correta
  • E Apenas a afirmativa II está correta.
Leia a explicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018, p.70) e, a partir das afirmativas a seguir e assinale a alternativa que complete o parágrafo adequadamente. Considere a ideia sobre educação indígena.
Parágrafo: “(...) em relação à diversidade cultural, cabe dizer que se estima que mais de 250 línguas são faladas no país – indígenas, de imigração, de sinais, crioulas e afro-brasileiras, além do português e de suas variedades. Esse patrimônio cultural e linguístico é desconhecido por grande parte da população brasileira. (...) Assim, é relevante no espaço escolar conhecer e valorizar as realidades nacionais e internacionais da diversidade linguística e analisar diferentes situações e atitudes humanas implicadas nos usos linguísticos (...). Por outro lado, existem muitas línguas ameaçadas de extinção no país e no mundo, o que nos chama a atenção para a correlação entre repertórios culturais e linguísticos, pois o desaparecimento de uma língua impacta significativamente a cultura”.
I. Muitos representantes de comunidades de falantes de diferentes línguas, especialistas e pesquisadores vêm demandando o reconhecimento de direitos linguísticos. Por isso, já temos municípios brasileiros que cooficializaram línguas indígenas – tukano, baniwa, nheengatu, akwe xerente, guarani, macuxi – e línguas de migração – talian, pomerano, hunsrickisch -, existem publicações e outras ações expressas nessas línguas (livros, jornais, filmes, peças de teatro, programas de radiodifusão) e programas de educação bilíngue.
II. Na área de Linguagens, especificamente em língua portuguesa, uma das competências é a da leitura, de forma alienada à realidade. A compreensão ocorre reproduzindo ideias já repetidas, isso garante que o aluno não desenvolva a autonomia nessa competência.
III. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades.
Estão corretas as afirmativas:
  • A I apenas.
  • B II apenas.
  • C III apenas.
  • D I e II apenas.
  • E I e III apenas.
Seguindo o documento do MEC, 2006, p. 236 de Marcos Maio, há “três fatores relacionados às políticas linguísticas que são importantes para o campo da ecolinguística, com intuito de contribuir para desenvolver a consciência política, discutindo a relação entre linguagem e ideologia, além de fornecer elementos para a formação de leitores e escritores mais críticos”.
(disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=down load&alias=646-vol15vias04web-pdf&Itemid=30192 - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006).
A partir da leitura feita, identifique a alternativa INCORRETA em relação às políticas linguísticas. 
  • A Se você é índio: fale sua língua! Nada que você possa fazer será mais valioso para a causa da preservação das línguas do que isso. Quer você resida na aldeia ou na cidade, pratique sua língua, fale-a todos os dias, valorize-a, ensine-a a seus filhos.
  • B Se você fala uma língua indígena fluentemente ou tem um parente que a fale: Faça gravações. Nada ajuda tanto as crianças e jovens a aprenderem uma língua do que ouvir os sons e o ritmo da língua falada por alguém que a conheça bem. Mesmo que sua língua esteja quase desaparecendo e os jovens já não tenham interesse por ela, se você a registrar agora, estará garantindo (SIC) que as futuras gerações possam ainda ter acesso a ela e, quem sabe, até reaprendê-la! Grave diálogos, estórias, canções, tudo o que estiver ao seu alcance.
  • C Se você sabe escrever bem em uma língua indígena: vamos criar uma página na Internet sobre a sua língua! O website ajudará aos jovens tentando aprender sua língua a fazerem uso natural da escrita, praticando a leitura espontaneamente. Se você está interessado em criar a página, pode nos contactar que lhe daremos todo o apoio necessário.
  • D Se você sabe ler bem em uma língua indígena: junte-se à nossa equipe de tradutores, auxiliando outros índios e/ou linguistas dispostos a traduzir e revisar materiais em línguas indígenas.
  • E Se você conhece bem a gramática descritiva da língua portuguesa: ajude-nos a preparar textos, fitas, dicionários, materiais didáticos e websites para que os indígenas aprendam a língua do homem branco. Saber língua portuguesa é importante para conservar o índio em seu patamar de submissão.
Em relação ao conceito de Deslocamento Linguístico, analise as afirmativas a seguir e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
    Calvet (2002 apud MELGUEIRO, 2012, p.61) explica que “o Deslocamento Linguístico ocorre quando uma língua vai sendo substituída pela outra. Sabe-se que nenhuma língua é estável, que ela está sempre mudando, sendo que o contexto sócio-histórico de uso definirá o tipo e a velocidade da mudança. Quando o contato linguístico é muito frequente e as sociedades / comunidades estabelecem relações constantes e duradouras entre si, as línguas / os dialetos em contato sofrem interferência uns dos outros. Como as relações humanas são regularmente assimétricas, ocorre muitas vezes de a língua que é mais valorizada ser imposta e assumida pelos falantes e/ou pela comunidade de menor prestígio. Quando isso ocorre completamente, se dá o que na Sociolinguística se chama de deslocamento linguístico. Esse fenômeno ocorreu e vem ocorrendo com muitas línguas indígenas brasileiras”.
(MELGUEIRO, Zilma Henrique A situação sociolingüística nas escolas indígenas Irmã Inês Penha e Dom Miguel Alagna na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM)– Recife: 2012, p.66). https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/11650/1/Disserta%C 3%A7%C3%A3o_Zilma.pdf).
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
( ) A simetria linguística garante o deslocamento entre as línguas, isso ocorre desde a origem da linguística.
( ) As línguas não são estáveis, com contato constante entre sociedades / comunidades, as línguas/os dialetos tendem a sofrer interferência uns dos outros.
( ) As línguas mais valorizadas são as que abrem espaço para as menos prestigiadas no contexto social.
( ) Na Sociolinguística o deslocamento linguístico é um fenômeno que ocorre quando a língua mais valorizada é imposta e assumida pelos falantes e/ou pela comunidade de menor prestígio.
  • A V - F - V - V
  • B F - V - F - V
  • C V - V - V - V
  • D F - V - F - F
  • E F - F - F - F
O texto de Lynn Mario T. Menezes de Souza “Uma outra história, a escrita indígena no Brasil” traz a passagem: “A nova escrita indígena que nasce de e para a nova escola indígena aparece especialmente quando surge o desejo e a necessidade de reescrever a história indígena, e por que não, de reescrever até mesmo as estórias indígenas, numa tentativa desenfreada de arrancar o poder de autoria das mãos dos tradicionais e históricos tutores das comunidades indígenas” e continua a se posicionar em “Eu sou índio porque nós temos costume de falar nossa língua. E também nós temos costume de dançar a festa do mariri.[...] Por isso é que nós queremos continuar a ser índio. É pelos costumes de nossa aldeia que todo pessoal já conhece. Então não adianta a gente negar a nossa língua e dizer que não é índio. O índio não pode virar cariu, porque é de outro jeito e chama de índio. O índio também é gente. Nós somos índios Caxinauás do Jordão e queremos aprender a língua de português, ler, escrever e tirar conta para não ser roubado pelo cariu”. Ao analisar o contexto e/ou utilizar o seu conhecimento prévio, assinale a alternativa correta.
  • A Mariri e cariu são palavras que demonstram o poder de autoridade dos tradicionais e históricos tutores das comunidades indígenas, conhecidos europeus.
  • B A nova escrita indígena nasce de e para a nova escola indígena, cumpre o desejo de o índio se manter com suas características indígenas, por isso há a necessidade de priorizar o ensino da língua portuguesa.
  • C Ao negar a língua indígena e afirmar não ser índio, o indígena vira mariri, porque é outro jeito de chamar o índio. Assim, ele se sente gente.
  • D Especificamente, neste depoimento, o entrevistado da tribo Caxinauás do Jordão quer saber a língua portuguesa para ler, escrever e fazer conta, a fim de não ser enganado pelo cariu
  • E O índio afirma ter costume de dançar a festa do mariri.[...] Por isso, ele quer continuar a ser índio, para mostrar ao cariu a sua superioridade.