Prova do - UERJ (2022) - Questões Comentadas

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Niketche é o nome de uma dança executada em ritos de iniciação sexual das jovens em algumas regiões de Moçambique. No contexto do romance, a apropriação da dança pela autora pode ser entendida como uma subversão de sentidos.
Essa subversão está melhor exemplificada no seguinte fragmento:
  • A No coração da noite residem os sonhos. Umas vezes são coloridos como as flores. Outras, pássaros negros dançando nas trevas como fantasmas. (cap. 1)
  • B Fazem fofocas. Falam nos ouvidos umas das outras e mandam risinhos de troça. Comem, bebem e dançam. (cap. 14)
  • C Só o Tony é que não deu pela mudança. Está na dança de homem, onde tudo é permitido. (cap. 36)
  • D A cantar e a dançar, construiremos escolas com alicerces de pedra, onde aprenderemos a escrever e a ler as linhas do nosso destino. (cap. 39)
Nas práticas primitivas, solidariedade é partilhar pão, manta e sêmen. Sou do tempo moderno. Prefiro dar a minha vida e o meu sangue a quem deles precisa. (cap. 4)
A escrita do romance é bastante marcada por frases mais breves, que se aproximam da oralidade. Entre essas frases, mesmo sem a presença de conectores, é possível recuperar relações de sentido.
No fragmento citado, entre a primeira frase e a segunda, e entre a segunda e a terceira, identificam-se, respectivamente, relações de:
  • A adversidade e consequência
  • B comparação e alternância
  • C adição e conformidade
  • D condição e finalidade

O romance apresenta uma narrativa em primeira pessoa, mas contém passagens nas quais se identifica a presença de outros tipos textuais.
O fragmento do capítulo 4 que exemplifica apenas o tipo textual narrativo é:

  • A Em algumas regiões do norte de Moçambique, o amor é feito de partilhas. Partilha-se mulher com o amigo, com o visitante nobre, com o irmão de circuncisão.
  • B Não é por acaso que as mulheres da geração antiga têm tatuagens grossas nas ancas, no ventre, no peito, no rosto, para tornar a pele rugosa e gostosa. Chegamos a um consenso: o sensual é também cultural.
  • C No norte, sem os ritos de iniciação, não és gente, és mais leve que o vento. Não te podes casar, ninguém te aceita e, se te aceitar, logo depois te abandona.
  • D Mandei fazer umas roupas bem garridas, com amarelo, vermelho e laranja. Vesti-as e fui ao espelho. Estava magnífica. Toda eu era uma fruta madura. Cereja. Caju. Maçã. Estava simplesmente tentadora.
Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. (...) Ah, meu espelho estranho. Espelho revelador. Vivemos juntos desde que me casei. Por que só hoje me revelas o teu poder? (cap. 1)
Não mais terei aquele espelho onde se refletia a imagem daquilo que fui, do que não sou e nunca mais voltarei a ser. (cap. 38)
Assim como em outros textos literários, o “espelho” é um objeto que assume função simbólica na construção da narrativa em Niketche.
Em relação a Rami, narradora e personagem principal, essa função é de:
  • A marcar etapas de sua trajetória em busca de transformar sua identidade em uma sociedade patriarcal
  • B apresentar seus conflitos morais a fim de denunciar sua cumplicidade com uma estrutura polígama
  • C desvendar traços de sua personalidade de modo a debater sua fragilidade em um país colonizado
  • D destacar suas ações recorrentes com o intuito de superar seu papel em uma família tradicional

As mulheres de Tony pertencem a diferentes grupos étnicos: Rami é ronga; Ju é changana; Lu é sena; Saly é maconde; Mauá é macua.
Em relação a essa diversidade, na representação cultural de Moçambique, cada uma dessas mulheres pode ser compreendida pela seguinte figura de linguagem:

  • A antítese
  • B hipérbole
  • C metonímia
  • D eufemismo