Prova do - UNIMONTES (2018) - Questões Comentadas

Limpar Busca

Considere os fragmentos que se seguem, de Gonçalves Dias:

TEXTO I

I-JUCA-PIRAMA


No meio das tabas de amenos verdores,

Cercadas de troncos — cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos d’altiva nação;

São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na guerra, que em densas coortes

Assombram das matas a imensa extensão.

[...]


TEXTO II

CANÇÃO DO TAMOIO

[...]

O forte, o cobarde

Seus feitos inveja

De o ver na peleja

Garboso e feroz;

E os tímidos velhos

Nos graves concelhos,

Curvadas as frontes,

Escutam-lhe a voz!

[...]


Sobre os poemas “I-Juca Pirama” e “Canção do Tamoio”, assinale a ÚNICA afirmativa verdadeira.

  • A O índio representado em “I Juca-Pirama” pode ser considerado a perfeita representação de atributos e virtudes da cultura branca, de que o seu autor é tributário.
  • B Em “Canção do Tamoio”, notam-se aspectos de identificação etnológica com índios brasileiros de tempos e espaços geográficos ilimitados.
  • C O conteúdo das composições enfatiza valores e qualidades simbólicos do índio, próprios ao objetivo de heroicização do orgulho nacional nascente dos oitocentos.
  • D A expressão poética das composições fundamenta-se nas convenções da lírica ocidental dos poemas de amor.

Leia um trecho de abertura escrito por Conceição Evaristo, em Histórias de leves enganos e parecenças:
Do que eu ouvi colhi essas histórias. Nada perguntei. Uma intervenção fora de hora pode ameaçar a naturalidade do fluxo da voz de quem conta. Acato as histórias que me contam. Do meu ouvir, deixo só a gratidão e evito a instalação de qualquer suspeita. Assim caminho por entre vozes. Muitas vezes ouço falas de quem não vejo nem o corpo. Nada me surpreende do invisível que colho. Sei que a vida não pode ser vista só a olho nu. De muitas histórias já sei, pois vieram das entranhas do meu povo. O que está guardado na minha gente, em mim dorme um leve sono. E basta apenas um breve estalar de dedos, para as incontidas águas da memória jorrarem os dias de ontem sobre os dias de hoje. Nesses momentos, em voz pequena, antes de escrever, repito intimamente as passagens que já sei desde sempre. Hão de me perguntar: por que ouço então as outras vozes, se já sei. Ouço pelo prazer da confirmação. Ouço pela partição da experiência de quem conta comigo e comigo conta. Outro dia me indagaram sobre a verdade das histórias que registro. Digo isto apenas: escrevo o que a vida me fala, o que capto de muitas vivências. Escrevivências. Ah, digo mais. Cada qual crê em seus próprios mistérios. Sei que a vida está para além do que pode ser visto, dito ou escrito. A razão pode profanar o enigma e não conseguir esgotar o profundo sentido da parábola. (EVARISTO, 2017, p. 17)
Tendo como referência a leitura da obra e as palavras da autora, todas as alternativas são corretas, EXCETO

  • A No conto “A moça do vestido amarelo”, o sincretismo religioso aparece como alegoria do inesperado cumprimento feito pela protagonista Dóris.
  • B O conto “Teias de aranha” traz elementos idealizados da infância, marcada, sobretudo, pela ternura entre irmãos.
  • C A profecia manifestada nos cabelos de Halima, em “Fios de ouro”, sugere a resistência das tradições negras.
  • D Em “Mansões e puxadinhos”, desenvolvem-se elementos críticos envolvendo as tensões entre classes sociais.

Para responder à questão, considere a obra Iracema, de José de Alencar, e especialmente, o fragmento abaixo:
“O dia enegreceu; era noite já. O pajé tornara à cabana; sopesando de novo a grossa laje, fechou com ela a boca do antro. Caubi chegara também da grande taba, onde com seus irmãos guerreiros se recolhera depois que bateram a floresta, em busca do inimigo pitiguara. No meio da cabana, entre as redes armadas em quadro, estendeu Iracema a esteira da carnaúba, e sobre ela serviu os restos da caça, e a provisão de vinhos da última lua. Só o guerreiro tabajara achou sabor na ceia, porque o fel do coração que a tristeza espreme não amargava seu lábio. O pajé bebia no cachimbo o fumo sagrado de Tupã que lhe enchia as arcas do peito; o estrangeiro respirava ar às golfadas para refrescar-lhe o sangue efervescente; a virgem destilava sua alma como o mel de um favo, nos crebros soluços que lhe estalavam entre os lábios trêmulos.” Disponível em: <http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/iracema.pdf>. Acesso em: 4 out. 2018.
Todas as afirmativas abaixo sobre a obra Iracema, de José de Alencar, são verdadeiras, EXCETO

  • A Essa prosa romântica indianista contribui para a construção de uma metáfora da transfiguração étnica da história da nação brasileira.
  • B A personagem-título, anagrama de América, representa a tensão experimentada em uma nação mestiça.
  • C O lirismo da composição alencariana não apaga o presságio de uma certa marginalização feminina.
  • D Trata-se de uma adequada abordagem da representação do índio na literatura brasileira contemporânea.

Leia abaixo trecho retirado do romance Abdias, de Cyro dos Anjos: . “Esperem. Não devo escrever tudo o que me vem à cabeça. Às vezes representamos como atores, perante nós próprios, e mesmo aquilo que brota espontaneamente do coração costuma não ser sincero. Os sentimentos usam máscaras até em sua câmara íntima. Para encontrar a verdade, temos de despi-los, nos redutos mais secretos. Bem sei que não sou um monstro. Talvez tenha querido passar como tal, apenas para excitar a piedade de alguém em cujas mãos possam estas páginas cair algum dia. É muito conhecido este processo de captarmos a benevolência alheia com a confissão nua de nossas misérias.” (ANJOS, 1963, p. 102)
Com base no trecho acima bem como na leitura do romance, pode-se afirmar que todas as afirmativas estão corretas, EXCETO

  • A Conduzido pelas reflexões e reminiscências do narrador, o romance elabora saltos e descontinuidades quebrando a sequência narrativa cronológica em favor das contingências da memória individual.
  • B O gênero diário permite a autocrítica e a autoavaliação do protagonista, levando-o a uma atitude de meditação cuidadosa e imobilidade frente aos conflitos.
  • C O protagonista usa, frequentemente, uma ironia autodepreciativa para angariar a simpatia do leitor, mostrando-se consciente da artificialidade de suas confissões.
  • D As confissões do protagonista, frequentemente, constituem formas de reconstruir experiências vividas em uma atitude de fugacidade que recusa as percepções presentes.

O livro O professor, de Cristóvão Tezza, possui como epígrafe uma tese extraída do texto religioso “Vita Christi”, do século XV – cuja atualização pode se fazer da seguinte forma: “Não pode alguém ser boa testemunha de outrem, se primeiro não for boa testemunha de si mesmo”. Essa proposição da epígrafe corrobora todos os aspectos dessa narrativa, EXCETO:

  • A O recurso a uma epígrafe com rubrica de um texto religioso, que se pretende autêntico e verdadeiro, estabelece um jogo narrativo paradoxal com o caráter labiríntico da memória da personagem.
  • B A recorrência a dados de pesquisas de institutos oficiais e a eventos históricos e a alusão a nomes da literatura universal conferem à narrativa um caráter factual e fidedigno.
  • C Na preparação para a sessão em sua homenagem, o narrador personagem, ao buscar o sentido da sua vida – num ziguezaguear de discursos –, revela-se uma testemunha parcial de si mesmo.
  • D A essência da epígrafe é rasurada com a alternância entre primeira e terceira pessoas do discurso, em uma mixagem de intertextos, resultando em um relato de testemunha ambígua.