A alegoria é um dos tipos de figuras de linguagem de uso retórico e que tem capacidade de produzir uma virtualização de algum significado, ou seja, sua expressão pode transmitir mais de um sentido além do literal.
Do grego αλλος, allos, "outro", e αγορευειν, agoreuein, "falar em público" e do latim allegoria, a alegoria não precisa necessariamente se expressar através de quaisquer tipos de texto, podendo ser encontrado em pinturas, esculturas e outras figuras de linguagem.
A alegoria pode ir de uma simples comparação da metáfora para a sátira, indo desde a fábula, o apólogo, a prosopopeia e o oximoro.
A fábula, o apólogo, o mito e a parábola são exemplos de gêneros textuais, por vezes acompanhado de uma lição de moral entre o sentido literal e o sentido figurado.
Sendo assim, a alegoria é uma figura de linguagem figurativa, utilizada geralmente para descrever algo, desde pessoas até objetos, através da imagem do outro.
Através deste modelo de figura de linguagem é possível extrapolar os limites dos significados, auxiliando na construção de ideias novas e paradigmas subentendidos.
Um dos exemplos mais famosos de texto que utiliza da alegoria para revelarem alguma verdade oculta é a Bíblia. Quando o teor do assunto é religioso, pode-se chamar de Alegoria Religiosa.
Alegoria na fábula e parábola
Muito utilizado na literatura, a fábula e parábola marcam a relação entre o sentido literal e o sentido figurado do contexto.
Elas representam tipos de textos que trabalham com a alegoria, com o objetivo de passar a mensagem de uma maneira figurada através de enigmas. Sendo assim, utilizam da alegoria para revelar verdades que estão ocultas no texto.
Uma das características mais importantes na escolha deste modelo de texto dentro da literatura e sua natureza moral, utilizando da personificação dos princípios morais da sociedade ou de forças sobrenaturais, como dar vida a objetivos, por exemplo.
Neste caso, é comum que na fábula animais em mundo imaginários norteiem esses princípios morais e possuem fins didáticos. Já na parábola são utilizados, geralmente, personagens reais.
Alegoria contemporânea
Um dos maiores exemplos contemporâneos que se utiliza da alegoria para criar seus significados é o romance de distopia do escritor inglês George Orwell ‘A Revolução dos Bichos’.
Publicado em 1945, o autor utiliza de elementos alegóricos na obra para criticar o modelo de sociedade do comunismo da União Soviética e seu autoritarismo.
Sr. Jones, dono da Granja do Solar, fechou o galinheiro para a noite, mas estava bêbado demais para lembrar-se de fechar também as vigias. Com o facho de luz da sua lanterna balançando de um lado para o outro, atravessou cambaleante o pátio, tirou as botas na porta dos fundos, tomou um último copo de cerveja do barril da copa e foi para a cama, onde sua mulher já ressonava.
Tão logo apagou-se a luz do quarto, houve um silencioso movimento em todos os galpões da granja. Correra, durante o dia, o boato de que o velho Major, um porco que já fora premiado numa exposição, tivera um sonho muito estranho na noite anterior e desejava contá-lo aos outros animais. Haviam combinado encontrar-se no celeiro, assim que Jones se deitasse. O velho Major (chamavam-no assim, muito embora ele houvesse concorrido na exposição com o nome de “Belo de Willingdon”) gozava de tão alto conceito na granja que todos estavam dispostos a perder uma hora de sono só para ouvi-lo (A Revolução dos Bichos).
Platão e o Mito da Caverna
O Mito da Caverna, também conhecido como Alegoria da Caverna, foi citado na obra A República do filósofo grego Platão (Livro VII). Além da Bíblia, ele é considerado um dos exemplos mais famosos de alegoria.
Nele, o filósofo utiliza da alegoria para que os personagens e elementos da história representam a ignorância dos seres humanos.
Com isso, os homens viveriam na ignorância dentro da caverna e quando resolvem sair dela, ultrapassam o processo, conhecendo a verdade do mundo.
O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.
Vamos imaginar que um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo. Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais e etc. Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros vão o chamar de louco, ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas. (Platão).
Artes visuais
Além do texto, a alegoria também é muito utilizada nas artes visuais, desde a Grécia antiga até a arte contemporânea.
Durante o Renascimento é possível encontrar algumas composições alegóricas, como nas obras de Giotto, com representações do feminino que pessoalizam as virtudes e os vícios.
Já na Alta Renascença, pode-se citar obras como A Temperança, de Perugino (ca.1450 – 1523), alguns trabalhos de Giorgione (1477 – 1510) e desenhos como A Abundância, de Niccolò dell’Abate (ca.1509 – 1571).
Na arte colonial do Brasil, a alegoria é utilizada com certa frequência, sendo encontrada em obras de artistas como José Joaquim da Rocha (1737 – 1807) e Teófilo de Jesus (1758 – 1847).
O forro da Biblioteca da Catedral Basílica de Salvador, na Bahia, é atribuído a Antonio Simões Ribeiro (s.d. – 1755) e é considerado uma alegoria do tempo, da fortuna, da fama e da sabedoria.