A anáfora ou também chamado de termo anafórico retoma algo que já foi citado, utilizando a repetição de determinada palavra ou expressão. Do ponto de vista semântico, as anáforas têm uma mesma referência, mas podem ter significações diferentes.
Já do ponto de vista textual, um referente pode ser reutilizado de diversas formas e as anáforas podem trazer informações novas sobre ele, mantendo a coesão do texto.
O termo é derivado da junção de duas palavras gregas: ana (repetição) e pheró: manter, suportar.
Exemplos de Anáfora
Essa repetição pode ser de uma ou mais palavras em diferentes frases ou versos. Esse formato é bastante utilizado na música popular brasileira, a exemplo da canção “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque.
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!
Nota-se que na canção é utilizado o pronome pessoal “ela” no início de três versos consecutivos. Isso pode acontecer também em trechos de textos, poemas ou até mesmo notícias.
Confira o texto abaixo:
Modos de sentir o silêncio
(Leticia Gomes Montenegro)
Fez-se silêncio ao tocar nas flores fúnebres sobre o cachão.
Fez-se silêncio ao cair em chamas reluzentes a estrela.
Fez-se silêncio ao subir queimando no ar o balão.
Aquela ausência era tão profunda e dolorosa,
não se ouvia um som.
Joana pedia que lhe contassem algo sobre sua mãe,
Fez-se silêncio.
O silêncio já era tanto que a ensurdecia.
Gritou, gritou, gritou
De desespero Joana.
Fez-se (apenas) silêncio.
A anáfora pode ser utilizada como método estratégico simples e de fácil utilização. A repetição nos termos, palavras ou ideais tem o objetivo de tornar a leitura mais agradável. Na fala, a repetição é útil quando o falante deseja reforçar várias vezes o seu objetivo.
Observe um exemplo de anáfora, no qual a palavra repetida tem seu significado modificado.
Parto do princípio do corpo como metáfora da vida.
Parto de uma nova vida que ressignifica outro corpo.
Parto de uma mãe: luz a uma criança.
Parto para outros destinos,
Rumos da maternidade.
Paragens infinitas.(Leticia Gomes Montenegro)
Nota-se que, no caso anterior, a palavra parto é utilizada diversas vezes, mas cada uma contendo um sentido diferente. É utilizado a palavra para se referir a início, ponto inicial de uma jornada ou percurso, bem como a parto como o ato de parir, dar à luz, fazer nascer. Além disso, o parto foi utilizado se remetendo ao verbo partir, no sentido de ir embora.
A repetição conforme a linguística textual
Como foi apresentado em trechos do texto acima, a repetição pode ser utilizada propositalmente na construção de um discurso, sem perder sua contextualidade. Segundo o professor Marcuschi, através do Livro Introdução à Linguística Textual, da pesquisadora Ingedore Villaça Koch:
Mais do que uma simples característica da língua falada, a repetição é uma das estratégias de formulação textual mais presentes na oralidade. Por sua maleabilidade funcional, a repetição assume um variado conjunto de funções. Contribui para a organização discursiva e a monitoração da coerência textual; favorece a coesão e a geração de sequências mais compreensíveis; dá continuidade à organização tópica e auxilia nas atividades interativas. Disso tudo resulta uma textualidade menos densa e maior envolvimento interpessoal, o que torna a repetição essencial nos processos de textualização na língua falada. (KOCH, p. 111, 112)
Catáfora
A catáfora é utilizada para fazer referência a um termo que aparecerá posteriormente. Ele é utilizado para formar um sentido entre frases e parágrafos. Vamos a um exemplo para facilitar a compreensão:
Para que a existência valha a pena…
(…)
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: “Parar pra pensar, nem pensar!”
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. (…)(LUFT,L. Para que a existência valha a pena. Disponível em:http://www.viva50.com.br/para-que-a-existencia-valha-a-pena-texto-de-lya-luft/>.)
Observa-se que que a catáfora é utilizada em dois momentos no texto, contextualizando um conceito que só será concluído em seguida:
- “o lema reconfortante” se referindo a “parar para pensar, nem pensar.”
- “ele” se referindo a “o sorrateiro pensamento que nos faz parar.”
Portanto, analisando as explicações dadas ao longo do texto, entende-se que:
- Anáfora – retoma por meio de referência um termo anterior;
- Catáfora – termo usado para fazer referência a um outro termo posterior.
Outras Figuras de Linguagem
- Metáfora;
- Paradoxo;
- Hipérbole;
- Onomatopeia;
- Antítese;
- Sinestesia;
- Elipse;
- Metonímia;
- Aliteração;
- Catacrese;
- Personificação;
- Eufemismo;
- Pleonasmo.