A Balaiada foi uma rebelião de caráter popular que ocorreu na província do Maranhão, no período regencial brasileiro (1831-1840).
Ao longo da história do Brasil, o modelo político-econômico (fruto da colonização portuguesa) estabeleceu uma sociedade injusta, racista e desigual.
As revoltas regenciais surgiram em várias localidades do país justamente em razão da exploração e do monopólio político e econômico. A exemplo da Cabanagem, que surgiu no estado do Pará e a população empobrecida lutou contra o governo provincial estabelecido pela Regência.
Especificamente no contexto dos acontecimentos da Balaiada, havia no âmbito da dominação política grupos com tendências mais absolutistas até ao liberalismo mais democrático.
Entretanto, a oposição dessas forças políticas ameaçavam a unidade nacional.
É importante destacar que nesse período houve eminentemente a participação popular contra a aristocracia rural que imperava na época. E isso graças as divisões de poder que existiram dentro da classe política e econômica dominante.
Tais divisões propiciaram com que homens livres, pobres, índios e escravos imbuídos do espírito de revolta pegassem em armas para lutar contra os desmandos sociais.
A ocorrência de alguns movimentos de lutas e revoltas no país foram realizados de forma desorganizadas, outros tiveram pouca duração e outros tiveram longos períodos de resistência, como o Quilombo dos Palmares que teve durabilidade de mais de um século no período do Brasil Colônia.
Outro movimento importante da história brasileira que semelhante a Balaiada contou com a mobilização da população pobre, negra e injustiçada foi a Conjuração Baiana em 1798.
Certamente, todas essas manifestações de lutas e revoltas sociais acabaram com severas penalidades por parte do governo colonial e regencial.
Entretanto, estima-se a importância da bravura dessas camadas populares em lutar em prol das suas aspirações.
Balaiada: crise política e econômica
A província do Maranhão tinha uma característica peculiar em relação as demais. Pois, concentrou um grande número de escravos, possivelmente, o equivalente a 2/3 da população provincial.
Os constantes castigos e os trabalhos desgastantes a que eram submetidos, fruto da política de escravidão no Brasil, os faziam fugir para os quilombos em busca de proteção.
A economia maranhense era baseada no sistema escravista plantation e o cultivo de algodão era a principal fonte de riqueza dos grandes latifundiários da região.
Contudo, os lucros das exportações do algodão maranhense foram afetados devido à concorrência dos Estados Unidos no mercado internacional.
Então, isso provocou uma grave crive econômica na região acentuando ainda mais a situação de miséria da população.
E não foi apenas as péssimas condições de vida do povo maranhense que culminou na Balaiada, mas também imperiosas decisões políticas. A nata da sociedade maranhense, obviamente, era composta pelos colonizadores portugueses que dominavam hegemonicamente a favor dos seus interesses.
Liberais e conservadores
No cenário político havia o desentendimento de dois grupos políticos. O primeiro eram os liberais conhecidos também como “bem-te-vi“. E o segundo eram os conservadores.
Os conservadores tinham total apoio do governo provincial
e isso os favoreciam com privilégios políticos. Inclusive, estavam constantemente no poder.
Os liberais ficavam mais à margem e eram perseguidos pelos opositores políticos.
Os integrantes dos liberais tinham concepções políticas alinhadas ao republicanismo. E para divulgar suas ideias fundaram o jornal “Bem-te-vi”.
Logo, qualquer incidente em um dos lados poderia culminar em ações desagradáveis.
Outro fator de conflito político era a dependência da província do Maranhão em relação a Corte do Rio Janeiro, e a ocupação pelos portugueses de importantes postos na administração pública e do Exército maranhense, que indignava aqueles com propostas políticas mais democráticas e a sociedade de modo geral.
Lei dos prefeitos
A população pobre não tinha nenhuma assistência social. Até porque o modelo de sociedade estabelecida desde do Descobrimento do Brasil, conforme dito anteriormente, não permitiu nenhuma relação democrática antes da Constituição de 1988.
Dessa maneira, a participação política do povo era algo inimaginável no governo regencial.
Então, a decisão autoritária do presidente da província do Maranhão em nomear prefeitos acendeu ainda mais as disputas entre os grupos políticos, sobretudo dos liberais, além da
insatisfação popular com os órgãos governamentais.
O estopim da Balaiada
Além dos escravos da província do Maranhão, havia grupos que também vivia em extrema miséria, como: vaqueiros, mestiços, pequenos agricultores rurais, artesãos, etc. Inclusive fabricantes de balaios.
E foi justamente essa camada da sociedade maranhense que colocou armas em punho e lutou contra os desmandos regenciais.
O subprefeito da Vila de Manga, José Egito, deu ordem para prender o irmão do vaqueiro Raimundo Gomes que foi acusado de assassinato.
Em seguida, Raimundo Gomes e nove companheiros invadiram a cadeia pública da província no dia 13 de dezembro de 1838.
No êxito da ação ainda conseguiram libertar outros prisioneiros e ganhar o apoio de vinte e dois soldados da vila. Isso porque os militares estavam insatisfeitos com o recrutamento forçado na província.
Líderes
Posteriormente, além de Raimundo Gomes aderiram ao grupo o negro Cosme Bento das Chagas e Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, um homem pobre que trabalhava na fabricação de balaios.
E foi o ofício de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira que deu o nome da rebelião, a Balaiada.
Por isso que todos os integrantes da Balaiada era chamados de balaios, independente da atividade profissional que possuíam.
Estes três homens originários das camadas populares lideraram o movimento, que teve a adesão de aproximadamente 11 homens
e ainda se estendeu para as províncias do Piauí e Ceará.
Destaca-se ainda que a revolta de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira tinha um peso maior, uma vez que sua filha foi estuprada por um soldado.
Junta Provisória
Os balaios passaram a atacar várias vilas provinciais e fazendas. Ainda mais, libertando negros escravos.
Em agosto 1839 ocorreu um dos momentos mais importantes das conquistas dos balaios - a tomada da vila de Caxias.
A vila de Caxias era uma das mais importantes província do Maranhão e tinha 40 mil habitantes.
Logo após, mesmo sem um projeto político estabelecido, os balaios formam uma Junta Provisória.
Entre algumas medidas políticas das lideranças da Balaiada estava o decreto que colocava o fim da Guarda Nacional e a expulsão dos colonizadores portugueses.
Inicialmente, a rebelião teve o apoio dos liberais que forneciam armas para os balaios. Entretanto, havia como pano de fundo o interesse de usar o movimento contra a oposição.
Fim da Balaiada e o Duque de Caxias
A reação do governo provincial foi enérgica contra a radicalização da Balaiada.
Assim sendo, coronel Luís Alves de Lima e Silva comandou uma tropa militar com 8000 soldados que seguiram para a vila de Caxias no dia 7 de fevereiro de 1840.
No conflito entre as tropas e os balaios morreram aproximadamente 8 mil vaqueiros e escravos.
Definitivamente, Raimundo Gomes se entregou aos militares e em 1841 a rebelião chegou ao fim.
Alguns integrantes da Balaiada receberam a anistia de Dom Pedro II. Já o negro Cosme Bento das Chagas foi executado e sentenciado a forca.
A vitória sobre os balaios rendeu ao coronel Luís Alves de Lima e Silva o título de duque de Caxias.