A Batalha dos Guararapes se dividiu em duas etapas. Holandeses, portugueses, luso-brasileiros e indígenas entraram em confronto por causa da ocupação holandesa no território de Pernambuco.
O confronto aconteceu entre os anos de 1648 e 1649 e foi pontual para que as invasões holandesas no território brasileiro chegassem ao fim.
O reino de Portugal, que na época já tinha o controle de boa parte do território colonial brasileiro, conseguiu o apoio dos luso-brasileiros, grupo de pessoas com dupla nacionalidade: portuguesa e brasileira.
No entanto, a Holanda, na época chamada de República das Sete Províncias Unidas, desejava controlar a região Nordeste do Brasil. Foi no território de Pernambuco que instalaram-se primeiro.
Mesmo com exército inferior, a Coroa Portuguesa saiu vitoriosa nos dois confrontos. Eles se utilizaram das técnicas de guerra e dos conhecimentos sobre o território brasileiro.
A Batalha dos Guararapes é considerada o pontapé para a criação do Exército Brasileiro. Luso-brasileiros e patriotas de todas as partes e classes do Brasil Colônia comungavam de um mesmo sentimento: defender o território de um invasor externo. O nacionalismo nunca esteve tão forte.
Contexto Histórico
Dois fatores foram fundamentais para o começo da Batalha dos Guararapes.
Quando os holandeses ocuparam as colônias do nordeste, Dom Sebastião, rei de Portugal, tinha falecido. O reino então ficou sob a administração da Espanha.
A Holanda, que até aquele período era uma província, também estava sendo comandada pela Espanha e lutava para se tornar independente dos povos ibéricos.
Como ainda não tinham se tornado independentes, os holandeses entraram nas colônias portuguesas. Assim, atacariam diretamente o governo espanhol.
A Holanda fundou duas empresas para o comércio internacional:
- A Companhia Holandesa das Índias Orientais – Companhias privadas de mercadores holandeses que tinham direito a privilégios no comércio.
- A Companhia das Índias Ocidentais – responsável por ocupar o Nordeste brasileiro. Sua atuação começou em 1624, na Bahia, mas os holandeses foram expulsos um ano depois.
Em 1630, os holandeses tentaram de novo. Dessa vez, conseguiram ocupar a capitania pernambucana, região do Cabo, em que o comércio do açúcar era lucrativo.
Em seguida, o domínio holandês se estendeu das cidades de Alagoas e Sergipe, área em que o rio São Francisco faz divisa com as cidades, até o Ceará.
Além de forçar a saída da Espanha dos seus domínios, a exploração da cana-de-açúcar era de grande interesse dos holandeses, que já conheciam o trabalho de aprimoramento do produto.
Em meados de 1640 e 1668, Portugal e Espanha entraram em uma série de conflitos, que ficou conhecido como a “Guerra da Restauração”. Esse evento culminou na independência portuguesa.
Percebendo que Portugal estava independente, os holandeses se sentiram ameaçados. Eles tinham o domínio do Nordeste, mas já temiam os possíveis conflitos, a exemplo da Insurreição Pernambucana.
A Insurreição Pernambucana aconteceu entre 1645-1649. O levante foi travado entre produtores de açúcar de Pernambuco e os holandeses, que na época tinham uma relação comercial com os senhores de engenho.
Colonos portugueses e holandeses não se entendiam mais. As dívidas geradas com a Companhia das Índias Ocidentais e a cobrança de impostos estremeceram a relação entre esses grupos.
Os habitantes do país que eram de origem brasileira até tentaram recorrer à coroa. Sem resposta, eles mesmos optaram por expulsar os holandeses da região.
As batalhas mais importantes entre colonos portugueses e holandeses aconteceram no Morro dos Guararapes, atual Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife.
Nessa luta, europeus, indígenas e africanos entraram na batalha para defender o território brasileiro.
Primeiro conflito
A primeira parte da Batalha dos Guararapes foi travada entre o exército da Holanda e o grupo que defendia o Império de Portugal no Brasil. O conflito aconteceu nos dias 18 e 19 de abril de 1648 no Morro dos Guararapes, capitania pernambucana.
A estratégia dos holandeses era bem interessante. Primeiro eles reconquistarem o Porto de Nazaré, também conhecido como Forte do Pontal de Nazaré ou Castelo do Mar, no atual município de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco.
A conquista desse território era essencial para abastecer o Arraial Velho do Bom Jesus, engenho que ficava à margem do rio Capibaribe. Era por essa área que todo o armamento e munição dos combatentes de Portugal entravam.
Os holandeses também planejaram ocupar o povoado de Muribeca, distrito de Jaboatão dos Guararapes, pois havia uma grande produção de farinha de mandioca que servia de alimento para os soldados.
O problema é que os holandeses não contavam as táticas portuguesas. Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros, generais portugueses, sabiam dos planos do exército adversário. A primeira coisa que fizeram foi impedir a chegada holandesa ao Morro dos Guararapes.
Em aproximadamente cinco horas de combate, a primeira parte da Batalha dos Guararapes terminou com a vitória de portugueses e brasileiros. Eram 7.400 soldados holandeses contra os 2.200 homens que lutavam pelo império português.
Nesse conflito a Holanda perdeu 1.200 pessoa, sendo que mais de 10% desse grupo era formado por sargentos e oficiais. Do lado luso-brasileiro houve 84 mortes.
Dentre os mortos estavam não só holandeses e luso-brasileiros. Ingleses, poloneses, africanos, franceses e indígenas dos povos tupis e tapuias também caíram no confronto.
O exército que pertencia a Companhia Holandesa das Índias podia ser mais numeroso, mas não conhecia o território brasileiro, tanto é que uma grande quantidade de holandês se afogou nos alagadiços do Morro.
Em todas as áreas de conflito, no mar ou na terra, os portugueses e brasileiros saíram vitoriosos. Mas, em 1649, dez meses depois, os holandeses voltariam para a segunda parte da Batalha dos Guararapes.
Segunda parte da Batalha dos Guararapes
O segundo conflito que envolveu holandeses e luso-brasileiros aconteceu no mesmo município, no Morro dos Guararapes, no dia 19 de fevereiro de 1649.
Os Portugueses venceram mais uma vez. Nesse etapa da Batalha dos Guararapes, os fatores da Guerra da Restauração e a Insurreição Pernambucana foram decisivos não somente para garantir a vitória nessa batalha, mas para dar fim as ocupações holandesas no Brasil.
Em 1654, não havia mais nenhum navio holandês em Recife, todos tinham voltado ao território europeu.