A Cabanagem foi uma revolta com características populares que aconteceu na província do Grão-Pará entre os anos de 1835 até 1840. O movimento tinha como objetivo diminuir os problemas sociais e acabar com as influências que o governo regente exercia na região. Foi uma das revoltas mais importantes do Brasil e teve participação de diversos setores sociais.
O nome Cabanagem é uma referência às cabanas onde a população mais pobre da região morava. Conheça agora um pouco mais sobre a história da Cabanagem, os motivos para que a população se revoltasse, as suas consequências e líderes.
Contexto histórico
Após a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, vários grupos ainda eram favoráveis aos poderes da colônia portuguesa. No Grão-Pará, uma força formada por negros, índios, ribeirinhos, quilombolas e fazendeiros se reuniram para expulsar os apoiadores da Monarquia. Este movimento foi a base para a formação de uma aliança entre a elite da província do Grão-Pará a população menos favorecida da região.
Depois de expulsarem o grupo favorável aos interesses da coroa, o governo regente retomou o poder, mas a maioria dos líderes da luta foi marginalizada. A elite que tinha contribuído com o processo começou a ficar ressentida com a pouca participação nas decisões do governo central.
Além disso, os membros abastados da sociedade passaram a deixar de lado as camadas mais pobres da população e a província começa a sofrer com dificuldades socioeconômicas.
Todo esse contexto fez surgir um clima de indignação na província e, assim como nos outros estados, um movimento contra o governo regencial começou a se desenvolver.
Principais motivos
O período regencial foi caracterizado por um grande número de insatisfações e revoltas no país. O descontentamento era gerado principalmente por problemas sociais e falta de participação política. Conheça abaixo as principais exigências do momento histórico e que gerou diversas agitações no Brasil. No Grão-Pará, esse movimento ganhou o nome de Cabanagem.
• Péssimas condições de vida para a população mais pobre;
• Descaso do governo regencial com os habitantes;
• Pouca participação política da elite nas decisões do governo;
• Disputas territoriais e políticas;
• Conquista da independência em relação ao governo central.
A revolta
Em 1932, o governo regente nomeou um novo governador para a província do Grão-Pará. Bernardo Lobos de Souza tomou posse no ano seguinte e logo começou a reprimir e a ser autoritário com os opositores. Além disso, defendia os interesses do poder central, o que desagradou os moradores da província.
Em janeiro de 1835, os rebeldes – grupos formado por índios, ribeirinhos e negros – invadiram o quartel e o governo de Belém. Durante o assalto, os cabanos mataram Lobo de Souza e o comandante de Armas, tomaram posse de uma grande quantidade de armamento bélico e nomearam Felix Antônio Clemente Malcher como presidente do Grão-Pará e Francisco Pedro Vinagre como o novo comandante de armas.
O novo governo durou pouco tempo, pois Félix Clemente Malcher, que era fazendeiro e tinha seus próprios interesses, passou a demonstrar que tinha inclinações diferentes da maioria dos manifestantes e mandou prender Eduardo Angelim. Novos conflitos ocorreram e teve como resultado o assassinato de Malcher e Francisco Vinagre assumindo o comando do governador cabano.
O novo governo de Francisco Vinagre começou a sofrer pressão do clero, que negociava a rendição de Vinagre e entrega do poder para Manuel Jorge Rodrigues. Em troca, o novo governador daria anistia aos manifestantes e melhoraria as condições de vida na região. Contudo, mesmo cumprindo o acordo, Francisco Vinagre foi preso.
Um contra-ataque foi organizado e Eduardo Angelim, juntamente com Antônio Vinagre (irmão de Francisco Vinagre), reuniu os rebeldes para atacar novamente Belém em agosto do mesmo ano.
Desta vez, Eduardo Angelim foi nomeado presidente. Entretanto, novos impasses entre elite e população, contradições internas e a falta de um projeto político forte impediu que o governo independente da província do Grão-Pará fosse para frente.
Em 1936, o governo regencial nomeou um novo Brigadeiro, o enviou para retomar a posse do Grão-Pará e se tornar o novo presidente da província. Belém foi então atacada e bombardeada por quatro navios, e os líderes da Cabanagem começaram a ser presos, exterminados ou fugiram para o interior.
Angelim foi preso e enviado para o Rio de Janeiro. Foi julgado no mesmo ano e condenado ao exílio. As tropas do governo central continuaram a caçar os manifestantes da Cabanagem até 1940 e só terminaram quando consideraram que todos os líderes ou principais manifestantes tinham sido presos ou mortos.
Consequências da cabanagem
A Cabanagem foi um dos movimentos mais importantes do período regencial do Brasil, pois foi uma das mais duradouras e que envolveu diversos setores e classes sociais.
Entre as consequências da revolta estão:
• Entre o início e o fim da Cabanagem, cerca de 40 mil pessoas morreram (quase metade da população da província na época);
• Tornou-se a mais importante revolta popular que aconteceu no período regencial;
• Quem mais sofreu foi a população pobre, pois diversos ribeirinhos, quilombolas morreram no processo;
• Diversas tribos foram dizimadas ou deixaram de existir.
Líderes
A Cabanagem teve diversas personalidades que contribuíram nos confrontos e tomada do poder. Conheça abaixo alguns dos principais líderes.
Felix Antônio Clemente Malcher
Felix Antônio Clemente Malcher (1772 – 1835) era dono de engenho de açúcar e foi o primeiro governante da província independente do Grão Pará. Após assumir o novo papel, começou a deixar claro seus interesses comerciais e então foi assassinado e teve seu corpo arrastado por Belém.
Eduardo Angelim
Eduardo Francisco Nogueira Angelim (1814 – 1882) era lavrador e participou nas lutas pela independência da província. Tornou-se presidente do Grão-Pará após Francisco Vinagre negociar com o governo central. Foi perseguido e preso pelas tropas do Império. Ficou exilado na ilha de Fernando de Noronha até 1851 e só retornou ao Pará em 1951, e não se envolveu novamente com a política.
Antonio Vinagre
Antonio Vinagre foi outro líder da Cabanagem e da tomada de Belém. Após seu irmão Francisco entregar a cidade ao Império, Antônio se refugia no interior e junto com Eduardo Argelim organiza um novo ataque. Foi morto durante o ataque.