A expressão catarse surgiu na Antiguidade e significa limpeza, purgação, purificação. O termo de origem grega – kátharsis -, tornou-se conhecido no período da Grécia Antiga, através do filósofo Aristóteles.
A catarse pode ser utilizada na filosofia, psicologia, medicina, religião e na educação, por exemplo.
Catarse na filosofia
De acordo com Aristóteles na obra “Poética” (335 a.C. e 323 a.C), catarse era o efeito de sublimação causada pelo teatro grego nos espectadores.
O teatro trouxe a possibilidade ao povo ateniense de entrar em contato com diferentes questões relativas à existência humana. Como consequência, o cidadão poderia refletir sobre atos e situações que só poderiam ser vivenciados através da tragédia.
Para ele, uma pessoa que fosse assistir a uma peça teatral - a população em geral tinha acesso naquela época -, experimentaria uma atitude contemplativa.
Por tratar-se de uma atitude passiva, seria possível observar o processo da catarse porque a pessoa sofreria o impacto daquelas ações que estariam sendo representadas no teatro, particularmente na tragédia.
Nesse processo, o indivíduo passaria por uma sublimação dos seus sentimentos, pois dentro do processo da mimese (ação de imitar) a pessoa se identificaria com o personagem e viveria uma existência comum.
Em “Poética”, Aristóteles apresenta a noção de catarse da seguinte forma:
“[…] a tragédia é um mimese de uma ação nobre, completa e de certa extensão, em linguagem embelezada separadamente pelas diversas formas de cada parte; é mimeses que se realiza por agentes e não por uma narrativa, e que conduz, através da piedade e do temor para a purificação (catarse) de tais emoções.”
No ponto de vista de Aristóteles, a catarse ocorria por meio da arte trágica pelo fato de que esta intervia sobre a alma do espectador. Dessa forma, o observador se identificava e sentia as paixões narradas e representadas, permitindo assim, ao vivenciá-las em seu interior, a libertação e, consequentemente, se purificaria.
Nesse momento, o espectador vivia um prazer trágico em forma dramática, de acordo com o filósofo. Por isso, essa representação teatral era considerada uma consequência da participação emocional dos espectadores, pois eles se identificavam com os atores do drama, sentindo por eles piedade e temor
.
Ainda segundo sua teoria, quando o espectador vivenciava a tragédia, ele era levado a uma experiência profunda e tinha como resultado uma descarga emocional. Para Aristóteles, além do teatro, a música, a pintura, a dança e o cinema também produziam catarse.
Por outro lado, parte da alma racional especula sobre as causas, sobre um conhecimento mais amplo para entender o que é o mundo, o universo, as pessoas, a vida. Essa especulação produz, ao invés de catarses, teorias.
Catarse e mimese
O conceito aristotélico apresentava um conceito diferente. Isso porque a arte havia sido fortemente censurada por Platão, visto que tratava-se apenas de imitação de coisas fenomênicas, isto é, mimese.
Para ele, as realidades fenomênicas não passavam de cópias imperfeitas dos eternos paradigmas do mundo das ideias.
Por isso, a arte torna-se “imitação da imitação, aparência da aparência”, distorcendo a verdade a ponto de fazê-la desaparecer.
Já Aristóteles se opunha claramente a esse modo de fazer arte, a “mimese artística”. Distante de apenas reproduzir passivamente a imagem das coisas, ele acreditava que era uma atividade que recriava a realidade segundo uma nova dimensão.
Catarse e a medicina
Na antiga medicina, o conceito da palavra catarse representava a excreção de alguma substância que estava fazendo mal para o organismo. A purificação de determinado indivíduo poderia ser feita através do sangramento, vômito, urina, fezes e até mesmo pelo suor
.
Foi a partir dessa caracterização que surgiu o vocábulo purgante, medicação usada para depurar ou limpar o intestino.
Catarse na psicologia e psicanálise
Na psicologia, esse conceito refere-se a uma libertação emocional, que é baseada na rememoração de fatos que estejam ligados à alguma inquietação. Essa lembrança é denominada de acontecimento traumático, pois era o que estava afligindo o cidadão.
Catarse é um método psicanalítico que tem como finalidade eliminar as perturbações, além da ansiedade e tensão. Na psicanálise, é conhecida como um método de provocação das emoções contidas e emitidas, para que elas possam ser despertadas e expostas sob orientação de um profissional preparado para lidar com a situação
.
O médico austríaco, Josef Breuer, passou a utilizar a técnica da hipnose, pois acreditava que através disso os pacientes teriam mais facilidade para reviver algumas cenas já esquecidas.
Sigmund Freud, considerado o “pai da psicanálise”, também acreditava que a catarse era um método psicoterapêutico, que tinha como objetivo realizar uma descarga emocional, liberando os sentimentos que estavam afligindo o paciente.
Catarse na religião
Na religião, a expressão catarse significa o momento em que o fiel entra em comunhão com Deus, quando este chega a um estado de purificação após um ritual religioso ou uma confissão
.
Esse método foi caracterizado por Empédocles (filósofo e pensador pré-socrático grego) e também abriga a relação com o orfismo – nome dado a um conjunto de crenças e práticas religiosas originárias do mundo grego helenista. Nesse aspecto, a alma é purificada pelas sucessivas vidas até atingir um estado completo.
Catarse na educação
No âmbito da educação, a catarse é identificada nas ações educativas, no processo educacional
. O método nessa área se caracteriza como um momento de síntese, pois o aluno consegue ter uma percepção mais ampliada de determinadas questões, além da absorção dos assuntos que foram estudados até aquele momento.
Essa síntese vai se convertendo em outras e consolida a formação de um pensamento concreto. É o momento em que o indivíduo pensa, estrutura, posiciona o pensamento sobre diversas questões de uma maneira diferenciada.
Porém, antes desse processo, o aluno passa por uma metodologia chamada síncrese, que é a visão geral sobre aquele assunto, o conceito inicial sobre a realidade social do conteúdo que foi trabalhado.