Resumo de Português - Comparação

Um dos recursos linguísticos que integram as figuras de palavras

A comparação, também chamada de símile, é uma figura de linguagem que estabelece uma relação de analogia entre dois ou mais elementos de um enunciado. Esse processo de aproximação entre os termos ocorre sempre na presença de uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa, a exemplo de: como, tal qual, assim como, semelhante a, feito, que nem, igual a, etc.
Muito frequente nos textos literários e musicais, faz parte do subgrupo chamado de figuras de palavras ou semânticas – recursos da língua portuguesa que possibilitam uma mudança no sentido real de uma frase ou expressão, criando novos efeitos e interpretações para o interlocutor.

Exemplos de comparação

A comparação realiza uma conexão entre elementos que podem ou não integrar o mesmo universo ou contexto para ampliar o sentido e a forma como as palavras são empregadas.
Vejamos como funciona nos exemplos a seguir:
Química é tão difícil quanto matemática.
Viajar de avião é muito mais rápido que de ônibus.
Nesses casos, os conectivos comparativos encontram-se estruturados de acordo com os graus dos adjetivos: comparativo de igualdade (tão) e comparativo de superioridade (muito mais).
Agora, observem a comparação em uma estrofe da música “Certas coisas”, gravada por Lulu Santos:
Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer
Ao utilizar o conectivo “como”, o eu lírico coloca-se em um nível de similaridade com as sensações que um sentimento guardado/ internalizado pode causar.
Outros exemplos:
“Meu coração tombou na vida/tal qual uma estrela ferida/pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)
“A gente parece formiga/ Lá de cima do avião/ O céu parece um chão de areia/ Parece descanso para minha oração”. (“Sonho de uma flauta doce”, banda Teatro Mágico)
“Drão/ O amor da gente é como um grão/ Uma semente de ilusão/ Tem que morrer para germinar”. ( “Drão”, Gilberto Gil)
Feito mal que não tem cura/ Tão levando à loucura/ O país que a gente ama.” (“Meu país”, Roberta Miranda)


Comparação x metáfora

Tanto a comparação quanto a metáfora são figuras semânticas e empregam as palavras por analogia, ou seja, fora do seu sentido convencional. No entanto, a principal diferença entre elas consiste no uso dos termos comparativos.
Enquanto na metáfora ocorre desvios no sentido real da palavra por meio da comparação implícita, isto é, sem a utilização de conjunções ou locuções conjuntivas comparativas, na comparação acontece uma ligação entre dois ou mais elementos através de conectivos, a fim de relacionar características, semelhanças ou traços em comum.
Para ilustrar essa distinção entre as figuras, vamos analisar um trecho da música “Amor e Sexo”, de Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor.
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão


Nesta estrofe é possível perceber que o sujeito lírico não usa conjunções ou locuções comparativas para fazer uma conexão do amor e do sexo com outros elementos. Sendo assim, cada verso compõe uma metáfora. Existe uma construção no sentido figurado, mas basta o receptor conhecer os termos de comparativos e associar as suas características ao sexo e ao amor para compreender a mensagem da música.
Veja agora o mesmo trecho com a inserção de conectivos:
Amor é [como] cristão
Sexo é [como] pagão
Amor é [como] latifúndio
Sexo é [como] invasão
A expressão figurativa ganhou força por conta da partícula “como”, mas não alterou o significado das palavras “cristão”, “pagão”, “latifúndio” e “invasão”. Dessa maneira, não há mais metáforas entre os versos, mas sim comparações.
Observação: os estudos da língua já apontam um fenômeno chamado de símiles híbridas, que remete a mesclagem entre uma comparação e uma metáfora na mesma expressão.

Outras figuras de palavras


Também chamadas de tropos, as figuras de palavras destacam o significado do discurso – seja oral ou escrito – através da substituição, comparação ou associação de palavras. Além da símile, os recursos estilísticos que participam desse subgrupo são:
Metonímia
Caracteriza-se pela substituição de uma palavra por outra com algum sentido de proximidade. Geralmente é empregada na comunicação oral, mas também aparece em textos escritos para incrementar o contexto. Existem alguns tipos de metonímia, entre eles estão:
  • Autor pela obra – Hoje vou ler Eduardo Galeano. (na verdade, o livro de Galeano que vai ser lido)
  • Marca pelo produto – Ana toma Coca-Cola praticamente todos os dias. (o refrigerante da marca Coca-Cola que é consumido)
  • Continente pelo conteúdo – O cachorro estava tão faminto que comeu a tigela toda. (isto é, comeu todo o alimento que estava no recipiente)
  • Causa pelo efeito – Consegui comprar minha casa com muito suor. (conquistou através de muito trabalho)
Perífrase ou antonomásia
Figuras que fazem referências ou nomeações indiretas a seres, objetos ou lugares. Permitem a substituição de um termo por expressões que descrevem características ou atributos, mas apenas desempenham essa função quando as trocas são de conhecimento dos falantes e possibilitam facilmente a sua identificação.
Exemplos:
O poeta dos escravos nasceu na cidade de Muritiba, na Bahia. (Castro Alves)
A cidade maravilhosa continua atraindo milhares de turistas. (Rio de Janeiro)
Apesar dos riscos, o rei da selva ainda não entrou para lista de animais em extinção. (leão)
Catacrese
A catacrese consiste na utilização de um termo no seu sentido figurado por causa da falta de outro que o defina de uma maneira mais adequada. É considerada um tipo de metáfora, pois já foi incorporada pelos nativos da língua e supre uma necessidade comunicativa.
Exemplos:
  • O pé da barriga
  • O céu da boca
  • A coroa do abacaxi
  • A boca do fogão
  • O braço do sofá
  • As maçãs do rosto


Sinestesia
A sinestesia é a combinação de diferentes sentidos (visão, tato, olfato, paladar e audição) para construção de frases ou expressões que transmitem uma simultaneidade de sensações.
Exemplos:
Quem não ama o silêncio doce das manhãs?
“Quero sua risada mais gostosa/ Esse seu jeito de achar/ Que a vida pode ser maravilhosa”. (“Vitoriosa”, de Ivan Lins)
"Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha, meio manacá, meio alfazema." (Mário de Andrade)