Revolta militar que teve grande apoio da população
A comuna de Manaus faz parte do período marcado pelo tenentismo – movimento político e militar incentivado por tenentes, capitães, cabos e soldados do Exército Brasileiro durante a República Oligárquica. Foi uma rebelião ocorrida no Estado do Amazonas, em 1924, no governo do então presidente Artur Bernardes.
Liderada pelo tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior, teve influência de motins realizados em outras regiões do país, a exemplo da revolta do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e Revolução Paulista de 1924. Entre as reivindicações dos militares havia a exigência de melhorias no ensino público, retirada do presidente da República e instauração do voto secreto.
Contexto histórico
A comuna de Manaus foi a terceira revolta tenentista no Brasil, episódios que aconteceram entre os anos de 1920 e 1930. Como era o tempo da chamada “política do café com leite” – alternância de poder entre Minas Gerais e São Paulo – jovens oficiais passaram a lutar contra as oligarquias e defender um novo sistema político para o país.
No entanto, além dessas questões, em Manaus o tenentismo foi motivado por uma acontecimento que resultou em diversos problemas econômicos e sociais: o fim do primeiro ciclo da borracha. De 1879 a 1912, a extração e comercialização do látex era a atividade mais importante da região Norte, especialmente na capital do Amazonas.
Em 1910, a matéria-prima enfrentou uma grande desvalorização no mercado externo, o que acabou levando a uma queda brusca nos preços. Com isso, a cidade que prosperava rapidamente entrou em uma fase de pobreza, desemprego e corrupção. Na tentativa de conter a crise, o governo do estado começou a disponibilizar empréstimos à população, mas as taxas de juros cobradas eram altas. Sob os comandos da presidência, houve ainda reajuste nos impostos.
Diante dessas circunstâncias surgiu a comuna de Manaus, movimento que ganhou amplo apoio popular e possibilitou o confisco de propriedades e fundos bancários dos membros das oligarquias.
Como ocorreu a comuna de Manaus?
No dia 23 de julho de 1924, a guarnição liderada pelo tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior aproveitou a viagem do governador César do Rego Monteiro para a Europa e invadiu o Palácio Rio Negro. Logo depois, os integrantes do exercício bloquearam as estações de telégrafos e telefone, isolando completamente a cidade de Manaus.
A revolta, que teve início na capital, espalhou-se para outras regiões do estado, a exemplo dos municípios paraenses Alenquer, Santarém e Óbidos, e seguiu para o Maranhão – local em que os tenentistas também tiveram o apoio da maioria da população.
De 23 de julho a 28 de agosto, a comuna de Manaus conseguiu chamar atenção para as suas demandas políticas e atos contra as práticas adotadas na República Velha. Contudo, em 26 de agosto, as tropas do general João de Deus Barreto chegaram para acabar com o movimento.
Como já sabia da forte aprovação popular, o comandante resolveu cercar a capital do Amazonas e ameaçou bombardeá-la. Para evitar mais repressão, os militares decidiram se entregar. Eles foram presos e julgados, mas não receberam punições severas, diferentemente do que aconteceu meses antes na Revolução Paulista, no qual muitos dos envolvidos terminaram mortos.
Movimentos tenentistas
As reformas idealizadas pelos militares e as insatisfações diante do governo da Primeira República incentivaram importantes rebeliões pelo Brasil. Além da comuna de Manaus, os principais movimentos contra o sistema político vigente foram:
Revolta dos 18 do Forte de Copacabana
Liderado pelo capitão Euclides Hermes da Fonseca e o tenente Siqueira Campos, o levante do Forte de Copacabana foi a primeira ação do tenentismo no Brasil. Esta revolta ocorreu em julho de 1992, mesmo ano da disputa eleitoral entre Artur Bernardes, representante de São Paulo, e Nilo Peçanha, que era apoiado pelos militares e oligarquias do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia.
A eleição, que aconteceu em março, deu a vitória ao candidato Artur Bernardes. Descontentes com o resultado, em alguns estados houve rebeliões populares, sendo o exército convocado para contê-las. Como o marechal Hermes da Fonseca ordenou que nada fosse feito, o governo mandou decretar sua prisão.
Tal situação provocou uma reação por parte de Euclides Hermes da Fonseca – filho do marechal – e Siqueira Campos, que mandaram seus subordinados apontar canhões nas principais áreas do Rio de Janeiro. De acordo com historiadores, o objetivo era tomar o Palácio do Catete e tornar Hermes da Fonseca presidente provisório.
Temendo represálias, os líderes do levante autorizaram a saída dos soldados que não queriam fazer parte do confronto. De 300 homens, apenas 28 permaneceram no Forte de Copacabana. Com o grande desfalque, Euclides decidiu negociar com o ministro da Guerra, mas acabou sendo preso e o forte bombardeado.
Após o ataque, somente 17 soldados não desistiram do plano e saíram em marcha pela Av. Atlântica a caminho do palácio. Durante o trajeto, ganharam o apoio de Otávio Pessoa, formando assim os “18 do Forte”. No confronto com as tropas do governo, 16 militares foram mortos e os tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos presos.
Revolução Paulista
Assim como na comuna de Manaus, a Revolução Paulista – encabeçada pelo general Isidoro Dias Lopes – foi estimulada pelos desejos de reinserção dos militares na política nacional, reforma das instituições públicas de ensino e implantação do voto secreto.
Em julho de 1924, os militares conseguiram ocupar pontos estratégicos de São Paulo e bombardear o Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo estadual. A violência dos ataques obrigou a fuga de 300 mil pessoas e de Carlos Campos, na época presidente do Estado.
Diante do número de vítimas, o movimento não teve nenhum incentivo popular. Os tenentistas até divulgaram um manifesto exigindo o afastamento do presidente Artur Bernardes e o cumprimento de uma série de reformas políticas, mais foram atacados pelas tropas fiéis ao governo. No final, a cidade ficou completamente destruída e muitos militares revoltosos foram mortos ou presos.
Já os tenentes se dispersaram para a região norte do Paraná, na fronteira entre o Paraguai e a Argentina. Após a conquista de algumas cidades, resolveram juntar forças com os militares do movimento comandado por Luís Carlos Prestes.
Coluna Prestes
A chamada Coluna Prestes teve início um ano depois do fim da comuna de Manaus. Em 1925, Luís Carlos Prestes e militares apoiadores iniciaram uma marcha que cruzou grande parte do Brasil. A estratégia era denunciar as ações do governo e mostrar as suas propostas de mudança. Esse movimento despertou a ira dos coronéis, que eram a favor da manutenção da República Velha, mas não houve conflitos entre eles e os membros da coluna.
Em fevereiro de 1927, após mais de um ano de peregrinação, os integrantes desistiram da luta e depois exilaram-se na Bolívia. Prestes tornou-se símbolo dos movimentos de cunho popular, chegando a ser apelidado de “cavaleiro da esperança”.