Conheça o que foi discutido em cada edição
O Concílio de Niceia que aconteceu no ano de 325 foi o primeiro evento promovido pela Igreja para discutir a fé cristã. O principal objetivo da convocação feita pelo imperador romano Constantino I era a criação de um consenso entre os representantes da instituição acerca da natureza divina de Jesus Cristo. Para isso, a assembleia contou a participação de bispos de todas as regiões do império.
No ano de 787, o concílio ecumênico do cristianismo volta a acontecer na cidade de Niceia. Nessa edição, a pauta central da assembleia é a veneração de imagens. Essa prática havia sido banida pelo imperador bizantino Constantino V. O Segundo Concílio de Niceia foi convocado pela imperatriz Irene e pelo Patriarca Tarasios.
Concílio de Niceia: o que motivou a convocação das assembleias?
Com o fim das perseguições religiosas, a fé cristã havia se espalhado pelo Império Romano. Contudo, esse processo deu origem a uma forma distinta de interpretar os dogmas da instituição. No Império Bizantino, o sacerdote alexandrino Ário colocou em questão a natureza divina de Jesus Cristo. De acordo com sua interpretação, ele deveria ser entendido como uma criatura de origem divina e não como uma divindade em si.
Sendo assim, Jesus não possuiria vida eterna, seria marcado por um traço de humanidade que o desvincularia da condição sagrada defendida pelos demais seguidores do cristianismo. O posicionamento de Ário havia criado uma situação conflituosa com o bispo Alexandre de Alexandria. Por isso, ele foi excomungado por todos os bispos do Egito e estava refugiado na cidade de Nicomédia.
Contudo, seu argumento acerca da natureza divina já havia conquistado adeptos que possuíam prestígio com o imperador Constantino. O agravamento das divergências entre a perspectiva de Ário e a visão ortodoxa impulsionou a convocação do Primeiro Concílio de Niceia, que deveria apresentar o posicionamento da Igreja acerca do arianismo.
A crise da Igreja Católica que motiva a convocação do Segundo Concílio de Niceia foi desencadeada quando o imperador Constantino V decretou a proibição da adoração de ícones, imagens. Essa decisão contou com o apoio do Conselho de Hieria, que mais tarde foi classificado pela Igreja como Falso Sínodo de Constantinopla, e determinava que fossem perseguidos de quem a descumprisse.
Ao mesmo tempo em que interditava a veneração de imagens religiosas, o decreto de Constatino V não se opunha às imagens de imperadores. Essa brecha foi entendida como uma estratégia de aumentar a autoridade do poder imperial em detrimento das figuras católicas. O posicionamento iconoclasta do imperador bizantino também foi mantido pelo seu sucessor, Leão IV, o Cazar.
É somente durante o governo da imperatriz Irene, que assumiu como regente do seu filho Constatino VI, que o tema volta a entrar em discussão com a convocação do Segundo Concílio de Niceia.
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Quais foram as decisões tomadas nas assembleias?
Por maioria absoluta dos votos, os bispos participantes do Primeiro Concílio de Niceia refutaram a interpretação sobre a natureza de Jesus apresentada pelo arianismo. De acordo com eles, Jesus deveria ser visto como o verdadeiro Deus. Esse posicionamento foi embasado pela forma como Cristo é apresentado na Bíblia, que contém as bases de transmissão da crença cristã elaboradas pelos apóstolos.
Essa decisão foi registrada no Credo de Niceia. O documento afirma que Jesus é feito "da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, (consubstancial ao Pai)". Com exceção de dois dos bispos presentes, todos assinaram o documento que formula o consenso universal da Igreja sobre a questão.
O Credo de Niceia também abriu a possibilidade de que os bispos realizassem assembleias locais. Esses eventos de menor proporção são denominados Sínodos e estão autorizados a definir declarações de crença e cânones da ortodoxia. Assim como os concílios, eles têm como finalidade homogeneizar a crença cristã.
Outras decisões importantes para o cristianismo obtidas no Primeiro Concílio de Niceia foi a promulgação dos cânones da Igreja. Basicamente, eles são leis imutáveis que estruturam o sistema de crença. Além disso, a assembleia dos bispos definiu que a Páscoa deveria ser celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera.
No que diz respeito às tratativas do Segundo Concílio de Niceia, a assembleia reestabelesceu a legitimidade da veneração das imagens. Para isso, os bispos usaram argumentos construídos a partir das passagens bíblicas presentes em Êxodo 25:19, Números 7:89, Hebreus 9:5, Ezequiel 41:18 e Gênesis 31:34.
O arianismo
Tema principal do Primeiro Concílio de Niceia, o arianismo é considerado a maior das heresias identificadas pela Igreja na Alta Idade Média. A perspectiva apresentada por Ário é categorizada pela instituição como uma questão relacionada à cristologia, campo da teologia dedicado a refletir sobre a natureza de Cristo. Na interpretação de Ário, Jesus Cristo é uma obra de Deus como todas as outras criaturas. Logo, ele não seria o Filho.
Ainda que essa perspectiva possa ser vista como negativa, ao atribuir humanidade a Jesus, o arianismo reforça a dimensão de espiritualidade do Messias. Isso acontece porque o sofrimento que ele enfrentou durante o período na Terra, assim como seus feitos, se tornam mais excepcionais por estarem associados à história de um homem comum.
Os concílios ecumênicos do cristianismo
Os concílios ecumênicos foram reuniões gerais da Igreja para decidir sobre temas que perpassavam a crença cristã. Essas assembleias contavam com a presença de representantes de Igreja de diversas partes do mundo, que em conjunto decidiam o posicionamento da instituição sobre a temática que apresentava divergências. A relação desses eventos teve como origem o Concílio de Jerusalém, descrito no quinto livro do Novo Testamento: Atos dos Apóstolos.
Na cidade de Niceia da Bitínia, hoje Iznik, Turquia, aconteceram a primeira e a sétima edição dos concílios ecumênicos. Mas ao todo foram realizadas 21 assembleias gerais da Igreja, nas quais foram discutidos temas como: a divindade do Espírito Santo; a consagração de Maria como Mãe de Deus; a retomada da Terra Santa; a ordem dos Templários; o planejamento de cruzadas; a adequação dos ensinamentos da Igreja ao mundo moderno; infalibilidade papal e outros.