Marcou o fim da era napoleônica e motivou a restauração do absolutismo
O congresso de Viena, ocorrido entre 1814 e 1815, reuniu os principais representantes das monárquicas europeias – dentre eles o czar russo Alexandre I, o ministro francês Charles Talleyrand e o príncipe austríaco Klemens Metternich – para discutir o retorno de territórios e do próprio sistema político após a derrota de Napoleão Bonaparte.
O objetivo do evento era restabelecer o Antigo Regime, ou seja, o absolutismo monárquico. Como o governo napoleônico mudou o mapa europeu a partir do expansionismo territorial, os países afetados pretendiam recuperar os seus domínios, recolocar no trono os reis que foram depostos, reconstruir o papado nos Estados Pontifícios, além de criar estratégias para evitar movimentos semelhantes à Revolução Francesa.
Contexto histórico
A era napoleônica teve início no ano de 1799, quando foi instituído o que ficou conhecido como Consulado – período marcado por grandes transformações judiciárias, administrativas, educacionais e financeiras na França. De modo geral, a sua administração caracterizou-se pelo favorecimento dos interesses da burguesia, pacificação política e religiosa, e controle de terras invadidas.
E foi justamente para conter esse expansionismo que a coligação formada pela Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia acabou sendo criada. Contra os ingleses, por exemplo, Bonaparte havia implantando o Bloqueio Continental, impedindo-os de comercializar com outras nações europeias.
Logo após a derrota francesa na Rússia, em 1812, os integrantes do Antigo Regime passaram a articular para pôr um fim ao poder napoleônico. Os governos da Áustria, Prússia, Rússia e Grã-Bretanha assinaram o Tratado de Chaumont, que posteriormente também seria aderido pela França, Suécia, Portugal e Espanha, dando o pontapé inicial para o encontro internacional realizado na capital da Áustria.
Depois de diversos confrontos e resistência, Napoleão foi finalmente derrotado em junho de 1815, durante a Batalha de Waterloo. Neste meio tempo, os participantes do Congresso de Viena elaboraram medidas para reorganizar as fronteiras e reaver os seus territórios.
Deliberações do congresso de Viena
Para colocar em prática os objetivos traçados, a congresso de Viena apoiou-se em dois princípios: restauração e legitimidade. No primeiro caso, a ideia era garantir a volta das casas reais que perderam os tronos. Isso permitiu o retorno da família real portuguesa, que fugiu para o Brasil novembro de 1807. Além disso, redesenhar o mapa da Europa, modificando as divisões estabelecidas pelas guerras napoleônicas.
Já no segundo, além do fortalecimento do poder dos monarcas, o foco era reordenamento dos territórios, para que cada país tivesse o direito sobre terras fora do continente europeu. Dessa forma, nenhum teria mais territórios que que outro ou o domínio diante dos demais.
Esses fatores embasaram o desenvolvimento de ações voltadas para reorganização territorial e restabelecimento do poder, beneficiando as nações das seguintes formas:
- Inglaterra – Entre os participantes do Congresso de Viena, foi a que conquistou diversos proveitos. Além de reerguer a economia, com o término do Bloqueio Continental, consolidou sua hegemonia militar e naval com o domínio da ilhas de Malta, Ceilão e Colônia do Cabo.
- Prússia – Ampliou a sua extensão territorial, incorporando partes da Saxônia, Pomerânia e Polônia, e cidades como Colônia, Trèves e Aachen.
- Grã-Bretanha – Foi compensada com os antigos territórios ocupados pelos franceses, a exemplo das ilhas Maurício, Tobago e Santa Lúcia. A Holanda ainda lhe cedeu a ilha de Trinidade.
- Rússia – Garantiu o controle da Finlândia, Bessarábia e parte da Polônia.
- Áustria – Ficou com as terras ao norte da Península Itálica, como Veneza, Lombardia e Milão, além das províncias da Ilíria, Dalmácia e porto de Cattaro. Também anexou a região de Galiza, na Polônia.
- Península Itália – Para restaurar as dinastias repartidas por Napoleão, houve a unificação dos reinos de Nápoles e Sicília, sendo chamado de reino das Duas Sicílias. Já o reino da Sardenha foi incorporado ao da república de Gênova, uma forma de isolar ainda mais a França.
Espanha e Portugal não receberam as recompensas determinadas no congresso de Viena, mas os seus reinados foram refeitos. O Brasil, inclusive, foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves.
As decisões também buscaram penalizar a França. Através do Tratado de Paris, seu governo foi repassado para Luís XVIII e obrigado a pagar uma indenização de 700 milhões de reais aos países invadidos por Bonaparte. Além disso, passou a ser monitorado pelos exércitos absolutistas.
Santa Aliança
Outra importante medida foi a criação da Santa Aliança, proposta pelo czar russo Alexandre I. Firmado entre Prússia, Rússia e Áustria, o acordo político e militar visava garantir a aplicação das propostas do congresso de Viena e combater os movimentos liberais e antiabsolutistas.
Como não concordava com o envio de tropas para a América Latina, na tentativa de reprimir os levantes que colocavam em risco o colonialismo, e movida pelos interesses comerciais com os Estados Unidos, que acabara de conquistar a independência, a Inglaterra não aderiu ao pacto.
A Santa Aliança acabou não colocando em prática os seus objetivos. A disseminação do Iluminismo e as lutas pela emancipação das colônias europeias contribuíram diretamente para o fracasso. As revoluções liberais também impulsionaram a substituição do absolutismo pelos parlamentos constitucionais, marcando o fim das dinastias.