O Dia do Fico foi o momento da história do Brasil em que o príncipe regente D. Pedro I contrariou a decisão do pai Dom João VI e decidiu ficar no país. A data marcou o início do processo de independência do Brasil, que terminou no dia 7 de setembro de 1822.
O desenvolvimento histórico que terminou com o Dia do Fico é iniciado com a expansão territorial de Napoleão, a invasão de Portugal e a fuga da família real portuguesa para o Brasil.
Essas mudanças contribuíram para que uma elite econômica fosse formada, incentivando D.Pedro I a ficar no país.
Conheça agora o contexto histórico e as consequências do Dia do Fico.
Precedentes históricos
Os antecedentes históricos que deram origem ao Dia do Fico se iniciaram durante a expansão de Napoleão Bonaparte. O objetivo do estadista era conquistar novos territórios para serem anexados a França. Assim, em 1806, decretou um Bloqueio Continental na Europa, o que impediu a Inglaterra comercializar seus produtos nos outros países.
Portugal tinha aliança comercial com a Inglaterra e era dependente de seus produtos, assim, ficou no meio de um impasse. Como não poderia deixar de cumprir o acordo com os ingleses, Dom João VI (regente de Portugal naquele momento) continuou realizando negócios com os britânicos.
A decisão, no entanto, desagradou Napoleão e este decidiu invadir Portugal. Ao perceber a iminente invasão, D. João VI criou um plano de fuga e embarcou para o Brasil.
Em 1808, a família real, os servos da nobreza e uma biblioteca com mais de 60 mil livros desembarcaram e se instalaram no Rio de Janeiro. A partir de então, diversas medidas passaram a ser tomadas pela Coroa Portuguesa com o objetivo de transformar o Brasil na nova base do império.
Entre as ações adotadas estavam o decreto de suspensão do alvará que proibia a criação de indústrias, o que contribuiu para instalação de duas fábricas de ferro em 1811.
Outras iniciativas tomadas pela coroa foram:
- Abertura dos portos às nações amigas;
- Fundação de escolas, incluindo a de medicina na Bahia e no Rio de Janeiro;
- Fundação do Banco do Brasil;
- Criação da Imprensa Régia;
- Formação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves;
- Criação da Biblioteca Real e do Jardim Botânico;
- Fundação da Academia de Belas Artes.
Todos esses fatores colaboraram com a sensação de independência e liberdade comercial entre a elite econômica brasileira, fundamentais para incentivar D.Pedro I a permanecer no Brasil.
Retorno dos portugueses e exigências da corte
Em 1815, Napoleão foi derrotado na Batalha de Waterloo. Posteriormente, um movimento, denominado de Revolução Liberal do Porto, começou a exigir a criação de nova Constituição em Portugal. Ao perceber que perderia o direito ao trono caso continuasse no Brasil, Dom João VI resolveu retornar ao país natal em 1820. No entanto, deixou seu filho Pedro como regente do Brasil.
Ao deixar o filho no Brasil, Dom João VI tinha a esperança de que as relações entre a coroa e a antiga colônia continuassem amistosas. Entretanto, a abertura comercial estabelecida durante os anos de permanência da família real gerou uma elite econômica com interesses em permanecer realizando o livre comércio.
Dom Pedro I era seguidor do liberalismo e depois que foi nomeado regente passou a implantar decretos para garantir o direito de propriedade. Além disso, diminuiu impostos e os gastos do governo que o fez ganhar respeito entre os comerciantes e elite brasileira.
Em junho de 1821, tropas portuguesas em comando do general Jorge de Avilez Zuzarte de Sousa Tavares começou a fazer diversas exigências. Entre as requisições estavam o pedido para que Pedro realizasse juramento de manter a Constituição de Portugal depois que esta fosse promulgada. Pedro fechou o acordo, apesar de saber que o objetivo era manter o território brasileiro sobre o controle português.
Mesmo com as negociações, a corte portuguesa dissolveu o Governo Central no Rio de Janeiro e ordenou que o regente retornasse para Portugal no intuito de terminar seus estudos preparatórios. Os revoltosos, no entanto, perceberam que a intensão era manter o Brasil sobre o domínio da coroa e assim foi iniciado o processo que terminou no Dia do Fico.
O Dia do Fico
A permanência da família real no Brasil contribuiu para que o território adquirisse alguma liberdade comercial. A elite agrária percebeu que o retorno de Dom Pedro I era uma estratégia para diminuir as conquistas e, assim, tonar o Brasil submisso novamente. A aristocracia passou então a se articular em um movimento para a permanência de Pedro.
Foram colhidas, então, oito mil assinaturas nas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – localidades onde se encontravam a elite econômica brasileira. No dia 9 de janeiro de 1822, as assinaturas foram entregues pelo presidente do Senado, José Clemente Pereira, a D. Pedro. Em resposta ao pedido, o regente pronunciou a histórica frase que marcou o Dia do Fico:
“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.
A declaração de Pedro deu início a um processo que se finalizou com a Independência do Brasil.
Consequências
Após o Dia do Fico, um intenso processo começou a se desenrolar até a Independência do Brasil. No primeiro momento, Avilez realizou uma segunda tentativa para fazer D. Pedro I retornar à Portugal.
Entretanto, o regente conseguiu expulsar o general com o apoio da população e de tropas. As relações entre Brasil e Portugal tonaram-se tensas e Pedro não conseguiu realizar nenhum acordo posterior com a coroa.
O regente começou, então, a viajar pelas províncias mais economicamente sucedidas do Brasil para realizar uma campanha de apoio, lealdade e reforçar sua autoridade pelos territórios. Durante esse momento, a Imperatriz Leopoldina (esposa de D. Pedro I) recebeu uma carta de Portugal novamente exigindo que seu marido voltasse ao país de origem.
Leopoldina, que tinha assumido temporariamente a regência, convocou o conselho de Estado e juntos decidiram pela separação e independência. Assim, uma carta foi encaminhada a D. Pedro I e este proclamou a Independência do Brasil no dia 7 de setembro de 1822.