Conheça a história e os problemas gerados por esse processo
O processo de favelização no Brasil está intimamente ligado com o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos que, por sua vez, acontece devido à migração de pessoas que buscam melhores oportunidades de emprego e habitação. Não é sem razão que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro estão entre os municípios com maior número de favelas no país.
Ainda que aconteça como tentativa de mudança das desigualdades de distribuição de renda existente no país, a favelização apenas lança luz sobre essas disparidades. Isso acontece porque ela coloca em um mesmo espaço geográfico pessoas que, muitas vezes, não têm acesso à infraestrutura básica de água, luz e sistema de esgoto, e vizinhos com padrões de vida luxuosos.
O processo histórico da favelização no Brasil
A formação das primeiras favelas no Brasil está diretamente ligada ao passado escravocrata do país. Com a abolição da escravidão no Brasil, um sistema de exploração de mão de obra, as pessoas negras não receberam qualquer tipo de indenização por parte das autoridades governamentais ou dos senhores de escravo. Com isso, passaram a habitar as zonas periféricas das cidades.
Desse modo, elas se manteriam próximas dos centros urbanos onde poderiam ter acesso a oportunidades de inserção no mercado de trabalho. De acordo com o pesquisador Andrelino Campos, foi assim que se iniciou o processo de ocupação dos morros no Rio de Janeiro e, desse modo, a favelização no Brasil.
Outros dois fatores históricos contribuem para o processo de favelização no Brasil, a saber a urbanização e a industrialização. A intensa urbanização do país ocorrida durante o século XX, associada ao processo de mecanização do campo, contribuiu para a ocorrência de um fenômeno chamado êxodo rural. As pessoas que moravam no campo, cuja força de trabalho passou a ser substituída pelas máquinas, iniciaram um processo de migração para os centros urbanos.
Nesse momento, as grandes cidades passaram a ser vistas como uma esperança de oportunidades de moradia e trabalho. Contudo, a maioria dessas pessoas não conseguiram realizar o sonho de viver melhor. O grande fluxo migratório, a impossibilidade financeira de viver nas regiões estruturadas das cidades e a ausência de planejamento urbano fizeram com que essas pessoas passassem a viver em regiões irregulares e com infraestrutura precária.
De acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Censo 2010, São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Salvador, Recife e São Luís são as capitais com maiores índices de favelização no Brasil. Ainda de acordo com o órgão, na época, eram 6.329 favelas em todo o território nacional, nas quais viviam o equivalente a 6% do total de brasileiros.
Problemas enfrentados pelos moradores de favela
A existência do processo de favelização no Brasil, em si mesmo, já se constitui como um problema. Ela evidência as disparidades socioeconômicas e ausência de distribuição de renda, bem como a falta de planejamento urbano e intervenção estatal no processo de ocupação das cidades. Mas, a partir desse fenômeno, podemos elencar algumas consequências negativas que ele impõe à vida das pessoas que habitam essas áreas de ocupação irregular.
Esses problemas evidenciam a manutenção da inviabilização desses espaços por parte do estado, que deixa de investir para melhorar as condições de vida das pessoas que habitam as favelas. Com isso, esses sujeitos enfrentam a falta de infraestrutura de saneamento básico, com redes de água e esgoto; as construções irregulares em regiões acidentadas se constituem como um perigo à vida, em especial durante os períodos de chuva em que há alagamentos, deslizamento de terras e soterramentos; e há ausências de investimento público para construção de escolas, postos de saúde e áreas de lazer.
Devido à ausência de políticas de estado, muitas vezes, o tráfico de drogas e as milícias assumem o controle desses espaços e impõem um sistema próprio de ordenamento social. Com isso, os moradores das regiões de favela ficam expostos à violência empreendida pelos criminosos e também àquela que parte das forças polícias que, na maioria das vezes, constituem como a única ou mais frequente intervenção estatal que acontece nas favelas.
A interferência que o tráfico de drogas exerce nessas comunidades, muitas vezes, faz com que os moradores das favelas tenham que enfrentar o estereótipo associado aos locais em que habitam. Esse enfrentamento se dá tanto nas abordagens policiais quanto nas situações formais em que precisam informar o local de residência, a exemplo de seleções de emprego.