Resumo de Português - Gradação

Faz parte das figuras de pensamento

A gradação é a figura de linguagem que utiliza uma sequência de palavras ou expressões para intensificar ou amenizar progressivamente uma ideia. Esse encadeamento de termos pode seguir uma ordem crescente, aumentando a expressividade do texto, ou decrescente – que gera um efeito de suavidade na mensagem a ser transmitida. 
Entenda como funciona nos exemplos:
De repente a lua ficou bonita, linda, deslumbrante, espetacular.
Nesse primeiro caso, a gradação acontece de maneira progressiva (crescente), pois as ideias estão organizadas de acordo com uma menor proporção (bonita) para uma bem maior (espetacular)
A criança esperneou, gritou, falou, murmurou... já não havia mais o que fazer para chamar atenção dos pais.
Já no segundo permanece uma sequência, mas agora de modo decrescente (espernear para murmurar).

Tipos de gradação

A depender do efeito provocado, a gradação pode acontecer de duas formas. A seguir, conheça um pouco mais sobre cada uma delas.
Clímax
Também chamado de gradação ascendente, provoca uma intensificação ou exagero no texto. O autor utiliza as palavras para criar um ritmo entre as ideias e depois levá-las ao ponto culminante. Assim como no texto narrativo ou conto, é o momento de máxima tensão. Essa técnica serve para instigar o leitor e conduzi-lo até o desfecho final.
Veja nos exemplos:
Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.
Na estrofe do soneto “O desfecho”, escrito por Machado de Assis, a gradação ascendente ocorre quando o autor aumenta gradativamente os numerais: “mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião”.
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas... Um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal aplicada
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida


Nos versos da música “Canto para minha morte”, escrita por Raul Seixas e Paulo Coelho, o clímax aparece nas muitas possibilidades de morte pensadas pelo eu lírico, que evoluem das formas mais rápidas e trágicas, como o acidente de carro e a anestesia mal aplicada, até as mais lentas (“ferida mal curada, a dor já envelhecida”).
Anticlímax
O anticlímax ou gradação descendente visa amenizar os efeitos da mensagem. A organização das palavras é feita para suavizar o sentido dado ao texto. É o que acontece nos exemplos abaixo:
As dores do amor são iguais em todos os lugares: do outro lado do planeta, em outro país, na esquina, aqui.
“Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Monteiro Lobato)
“Oh, não aguardes, que a madura idade/Te converta em flor, essa beleza/Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.” (Gregório de Matos)



Figuras de pensamento

As figuras de linguagem são recursos estilísticos empregados na oralidade e escritas que têm a função de ampliar a expressividade da mensagem envolvida na comunicação. Na língua portuguesa, classificam-se de acordo com quatro categorias: palavra, sintaxe, som e pensamento, sendo esta última a subdivisão em que a gradação é um dos integrantes.
Esse subgrupo dedica-se ao aspecto semântico da linguagem, ou seja, os sentidos que uma palavra pode apresentar quando inserida em diferentes contextos. O principal objetivo do seu uso é desencadear emoções no leitor ou ouvinte através da relação simbólica entre os termos ou expressões. Confira abaixo quais são os outros recursos que compõem as figuras de pensamento:
  • Antítese – Caracteriza-se pela aproximação de palavras e/ou expressões com conceitos opostos, mas que não se contradizem. Ex: A vida é mesmo assim/Dia e noite, não e sim.” (“Certas coisas”, Lulu Santos e Nelson Motta)
  • Apóstrofe – Figura que equivale ao vocativo, pois invoca ou chama o receptor da mensagem, evidenciando alguém (real ou imaginário), um sentimento ou objeto. Sempre aparece entre vírgulas ou outro sinal que transmita uma entonação exclamativa ou apelativa. Ex: Ô João, você pode esperar mais um pouco?
  • Eufemismo – Consiste na utilização de palavras mais brandas diante de um discurso desagradável, triste ou polêmico. Não há alteração no sentido do conteúdo, apenas uma suavização da ideia principal. Ex: Após anos de sofrimento, Ana finalmente foi se encontrar com Deus. (substituição da palavra morte)
  • Hipérbole – Uso de expressões que visam exagerar a realidade. Tem o propósito de destacar ou enfatizar uma ação ou sentimento. Ex: “Por você conseguiria até ficar alegre/ Pintaria todo céu de vermelho/ Eu teria mais herdeiros que um coelho”. (“Por você”, Roberto Frejat)
  • Ironia – Recurso que gera efeito contrário ao sentido habitual/denotativo. Com base no humor ou crítica, tem o objetivo de desvalorizar e ridicularizar determinada pessoa ou situação. Ex: Meu filho é um anjo, apenas recebeu cinco reclamações dos professores desde que as aulas começaram.
  • Paradoxo – Também chamado de oxímoro, é associação de palavras contraditórias para construção de uma ideia. Embora pareça ilógico, resulta em uma ‘contradição’ aceitável. É uma figura muito utilizada nos momentos que se deseja expressar sarcasmo e ironia. Ex: “Amor é um fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói, e não se sente/É um contentamento descontente/É dor que desatina sem doer.” (Luís de Camões)
  • Personificação (ou prosopopeia) – Recurso que atribui características, sentimentos e ações que são específicas dos humanos a seres inanimados e/ou irracionais. Ex: “Aprendi o segredo, o segredo, o segredo da vida/ Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar.” (“Medo da chuva”, Raul Seixas)