Resumo de História - Gulag

Gulag era uma espécie de rede de campo de detenção e de trabalhos forçados espalhados por toda União Soviética. O governo russo enviava prisioneiros políticos para esses espaços e lá eles sofriam todo tipo de abuso, como torturas físicas e psicológicas e até mortes.

O termo “Gulag” é um acrônimo para a expressão russa Glavnoe Upravlenie Lagerei, que significa Administração Central de Campos, que era a instituição por trás da administração e burocracia dos campos.

Os campos existiam desde o Império Russo, antes da Revolução Russa em 1917. Depois do movimento que derrubou a monarquia do país, foi instaurado o regime stalinista, que manteve os campos, porém de forma muito mais violenta e sangrenta.

Estima-se que existiram entre 450 a 470 campos de concentração. Estudos apontam que cerca de 2 a 3 milhões de pessoas morreram enquanto eram prisioneiras do governo russo. Os campos Gulags tiveram seu auge entre os anos de 1929 e 1953. O campos só foram enfraquecidos após a morte de Stalin e, só na década de 80, foram totalmente abolidos  no Governo de Gorbachev.

Principais Características dos Gulags

Durante o governo de Stalin o perfil dos condenados foi se tornando cada vez mais rigoroso. No início do sistema, apenas pessoas tidas como “inimigas do povo”, burgueses ou monarquistas eram enviadas para os campos. No entanto, logo depois todo e qualquer cidadão que se manifestasse, de qualquer forma, contra o governo era condenado preso político e enviado imediatamente a um campo Gulag.

Além dos cidadãos que protestavam contra o governo e membros dos partidos contrários à política stalinista, professores, presos comuns, assaltantes e assassinos também eram levados para trabalhar no campo.

Inicialmente, a ideia era fazer com que esses presos fossem reeducados politicamente e passassem a apoiar o governo, mas em pouco tempo, os campos se tornaram a principal arma de repressão de Stalin.

Cidadãos de outros países também foram enviados para serem reeducados nos gulags, como por exemplo os alemães que foram acusados de traidores e os poloneses que foram acusados de agir espionando o governo soviético.

Boa parte dos campos ficavam localizados nos subúrbios de Moscou, e outra parte ficava localizada em regiões inóspitas da Sibéria. Eles eram divididos entre campos de trabalhos industriais e campos de construções.

Além da forte repressão aos que se colocavam contra o governo, os campos também serviam como parte de um sistema econômico, defendido por Stalin. O sistema era baseado na ideia de que o trabalho forçado construiria uma nova nação socialista e redimiria os cidadãos tidos como criminosos, tornando-os novos homens.

O sistema de funcionamento dos campos eram desumanos e tratavam os prisioneiros como verdadeiros escravos. A tortura física e psicológica era cotidiana. Os condenados não tinham conforto e viviam em condições sub-humanas, em espaços superlotados. Estima-se que um campo chegava a abrigar mais de mil presos.

Os presos recebiam uma determinada quantidade de comida, proporcional ao que trabalhavam. Para receber a quantidade completa de refeição, os detentos precisavam cumprir 12 horas exatas de trabalho. Quem não conseguia, tinha a sua quantidade cortada pela metade.

Esse sistema de alimentação acabou matando várias pessoas, já que quando comiam menos, tinham menos energia para trabalhar, logo, trabalhavam menos e recebiam uma quantidade de comida ainda menor.  Em pouco tempo acabavam enfraquecendo e falecendo.

Estudos apontam que mais de 18 milhões de pessoas passaram pelo sistema Gulag e que houve de 2 a 3 milhões de mortos pelo sistema. Muitas mortes não foram contadas, pois muitos presos eram liberados poucos dias antes de morrer.

Além de serem mortos pelos soldados e pela fome extrema, os presos também morriam em razão do frio intenso, do isolamento, de depressão e das péssimas condições sanitárias dos campos que ficavam em regiões geográficas inacessíveis. Alguns detentos também morriam tentando escapar da prisão.

A Máfia Russa teve origem nos campos Gulags. Grupos como Vory e Zakone surgiram porque muitos presos se uniram e criaram códigos e leis internas com a intenção de se proteger da violência do sistema.

Veja no vídeo abaixo uma entrevista feita com a escritora e jornalista Anne Applebaum. Ela escreveu um livro intitulado “Gulag” que traz relatos de pessoas que passaram pelo sistema:

Alexander Soljenítsin e o “Arquipélago Gulag”

Alexander Issaiévich Soljenítsin foi um dramaturgo, escritor, historiador e romancista russo que nasceu na cidade de Kislovodsk em 11 de dezembro de 1918 e morreu na cidade de Moscou em 3 de agosto de 2008. Através de suas obras, ele expôs ao mundo a verdadeira face do sistema prisional Gulag.

Soljenítsin serviu ao Exército Vermelho com a patente de capitão durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período escreveu uma carta para um amigo onde dizia que não confiava nas capacidades de estratègia militar de Stalin. Essa carta foi interceptada pelo governo e Alexander foi preso e condenado a viver por 10 anos no Gulag, trabalhando forçado.

O tempo que passou na prisão o inspirou a iniciar a sua carreira de escritor e assim ele escreveu o primeiro livro intitulado “Um Dia na Vida de Ivan Denisovich”, onde ele denunciava as atrocidades que eram cometidas dentro do sistema Gulag.

Na época, Stalin já havia morrido e o então presidente da URSS, Nikita Kruschev, permitiu a publicação do livro no país acreditando que essa era uma forma de mostrar ao povo russo e ao mundo que o stalinismo tinha acabado e que União Soviética já estava passando por mudanças positivas.

Alexander foi muito criticado pela publicação, mas também foi apoiado pelas pessoas que tinham passado pela mesma experiência que a dele. Assim, depois da publicação ele começou a receber cartas de pessoas relatando seus momentos de terror nos campos de trabalho forçado, inspirando-o a escrever o seu segundo livro intitulado “Arquipélago Gulag“.

O livro trazia o relato de outros 237 condenados à prisão no sistema Gulag, denunciava a ditadura sangrenta de Stalin e a ascensão e declínio do Império Russo. Através da obra, o mundo conheceu a dura realidade em que os condenados viviam e as atrocidades cometidas pelo stalinismo.

Solzhenitsyn foi seriamente perseguido por sua obra e precisou viver em asilo político durante o resto da vida. Muito partidos comunistas foram afetados com o livro e o regime também sofreu com o desgaste da imagem. Em 1970 Alexander Soljenítsin recebeu o Prêmio Nobel da Paz e até hoje sua obra é considerada uma das mais importantes da história do mundo atual.