Existem lendas indígenas em várias culturas ao redor do mundo. No Brasil, essas lendas ajudam a contar as histórias de lugares, de populações e a construir o imaginário coletivo.
Os povos indígenas habitavam em vários países e continentes desde antes de suas colonizações. Eles ajudam a constituir os costumes, a alimentação, as histórias e, principalmente, as mestiçagens.
No Brasil, a chegada do homem branco em 1500 trouxe vários costumes, como as vestes, a religião e a comida. Mas os povos indígenas que viviam no país já tinham muitas histórias, crenças e sincretismos.
As lendas indígenas brasileiras ajudam a contar as histórias desse povo que contribui com a nossa cultura do jeito que hoje nós conhecemos. As histórias, cercadas de magia e enigmas, ajudavam inclusive na educação de crianças.
Muitas das lendas indígenas falam sobre a proteção da flora e da fauna.
Elas relatam ainda histórias de personagens fortes e guerreiros. Ainda é possível encontrar histórias de união, de amizade e de respeito.
Saci Pererê
O Saci Pererê é uma das lendas indígenas mais famosas no Brasil. Se apresenta de diferentes formas pelo país, e vai desde a figura de brincalhão, até o malvado.
Também chamado de saci-cererê, matita perê, matimpererê e vários outros nomes, a história do Saci Pererê surgiu entre o fim do século XVIII e o começo do XIX. Tem origem entre os indígenas que viviam na Região das Missões, no estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do país.
Ao se espalhar pelo Brasil, a lenda passou por alterações, e com a influência do povo africano o personagem foi mistificado como um homem negro e de uma perna só. A falta do membro é devido a uma luta em roda de capoeira, esporte que mistura dança e artes marciais.
Ainda ficou conhecido por fumar o pito, um cachimbo originado na Europa, e por usar o píleo, o gorro vermelho originado na cultura de Portugal.
O saci tinha papel de divindade. Acreditava-se que ele guardava as plantas medicinais e conhecia bem o uso de todas elas.
Como protetor dessas plantas, a lenda conta que ele confunde quem pretende arrancar qualquer uma delas sem a sua permissão.
O Saci é representado ao longo dos anos em músicas, cinema, televisão e até histórias em quadrinho. Seus personagens mais famosos no Brasil estão nas histórias de Monteiro Lobato e Ziraldo.
Iara
Outra das lendas indígenas mais conhecidas é a lenda da Iara. A história relata um ser que é metade mulher e metade peixe e que vive no Rio Amazonas. Na lenda, o ser aparece como uma linda mulher de pele parda, longos cabelos e olhos castanhos, que tem o objetivo de seduzir e matar pescadores.
Essa é uma das lendas indígenas que passaram por mais alterações com o tempo. Uma das versões conta que Iara era uma índia filha do pajé de uma tribo amazônica. Ela era considerada uma grande guerreira, o que despertou a inveja de seus irmãos. Eles tentaram matar a jovem que, com sua força, conseguiu escapar e matar os irmãos.
Tomado pelo rancor, o pai encontra Iara, que havia fugido para a floresta, e a joga no rio como forma de castigo. Os peixes encontram a jovem no rio e decidem transformá-la em metade peixe e lhe dar poder sobre as águas.
Em outra versão, surgida entre os séculos XVI e XVII, a lenda dizia que o ser era metade homem e se chamava Ipupiara. No século seguinte a lenda muda e o ser passa a aparecer no sexo feminino e a se chamar Uiara ou Iara. Vários pescadores afirmam já terem visto a Iara, e falam sobre a forma sedutora como ela canta e atrai os homens para a morte.
Curupira
Outra das lendas indígenas do Curupira fala sobre um menino que vive nas matas, cuja principal característica são os pés virados para trás. Nas histórias, o Curupira aparece como defensor da natureza, e faz com que os caçadores se percam nas matas dando sinais falsos e emitindo sons.
Aparece nas histórias como um ser de cabelos vermelhos ou de fogo, e de grande força física. Sendo uma das lendas indígenas mais antigas, o Curupira aparece em 1560, em escritos do padre José de Anchieta.
Acredita-se que a lenda do Curupira venha desde os primeiros povos indígenas brasileiros.
As histórias contam que o Curupira defende os animais ainda de chuvas e acidentes da natureza. Elas descrevem ainda o Curupira como curioso, então para se escapar de suas armadilhas, basta que a pessoa amarre bem uma corda com um nó para que o Curupira encontre e tente desamarrar, assim ele esquece a pessoa e ela pode escapar.
O Curupira aparece com diferentes facetas a depender de onde sua lenda seja contada.
Pode ser visto como um ser do bem, uma vez que defende os animais e a natureza. Mas pode ser visto também como mal, já que com sua força pode matar caçadores e pessoas que fazem mal a seu habitat.
Boitatá
Outra das lendas indígenas mais antigas registradas é a do Boitatá. Com registros feitos desde 1560 pelo padre José de Anchieta, as histórias do ser vêm desde os povos indígenas mais antigos.
O Boitatá aparece como uma gigante cobra de fogo que tem o objetivo de evitar que pessoas coloquem fogo nos campos e nas florestas.
Ele vive nos rios, mas pode transformar-se em brasa e atear fogo em quem queimar as matas.
O nome do ser pode variar a depender da região onde apareça. Surge na Região Norte do país como a junção dos termos “tupi-guarani boi”, que quer dizer cobra, e “tata”, que significa fogo. Na Região Nordeste pode aparecer como batatão. No sul do país pode ser chamado de Baitatá ou de Batatá.
A origem da lenda na verdade vem de uma reação química da natureza.
Acontece quando ossos de animais como cavalos e bois, que são ricos em fósforo branco, se decompõem e se acumulam. O fósforo é o único material que resta, e quando entra em contato com faíscas ou um raio, por exemplo, pode entrar em combustão.
Outras lendas indígenas
Existem ainda diversas outras lendas indígenas. Algumas delas são:
• Matinta Pereira
• Mapinguari
• Lenda do Uirapuru
• Boto cor-de-rosa
• Mandioca
• Guaraná
• Vitória-Régia
• Caipora
• Anhangá
• A Princesa do Lago
• Tucumã