Apoio à produção intelectual e cultural
O mecenato pode ser definido como um incentivo destinado à produção cultural. A prática, que teve início durante o Império Romano tinha como objetivo promover o trabalho dos artistas e também cientistas.
Os mecenas, que eram os patrocinadores, dedicavam apoio financeiro para a literatura, produção teatral, ciências, esculturas, pinturas. Um tipo de vínculo que beneficiava os artistas, muitos daquele período passaram a viver somente desse ganho, e facilitava a expansão das obras. Além disso, quem tinha esse patrocínio garantia também um prestígio na sociedade e proteção política.
Obviamente, o mecenato não favorecia só os artistas. Os mecenas, que geralmente faziam parte da aristocracia, também ganhavam muita projeção política. No fim das contas, essa relação de troca favorecia ambas as partes.
Origem do termo
O nome mecenato remete ao nome de Caius Mecenas ou Caio Mecenas, um conselheiro do Imperador Romano Otávio Augusto. Mecenas fazia parte de uma classe de cavaleiros e também era um cidadão romano muito rico. Ele foi bastante influente no governo de Augusto e incentivou o imperador a investir e patrocinar diversos artistas do período.
A missão foi destinada ao próprio Mecenas, que ficou designado pelo imperador para financiar a produção cultural e literária de nomes bem conhecidos pela cultura romana, como o historiador Tito Lívio e grandes poetas como Virgílio, Horácio e Ovídio.
O incentivo que era dado aos artistas acabou configurando uma nova era em Roma. Conhecido como o “Século de Augusto” o Império vislumbrou grandes transformações no seu espaço urbano. A capital da Itália passava a ter esculturas espalhadas pelas cidades, teatros, anfiteatros, templos. As casas também ganharam mudanças significativas, com decorações esculpidas em mármore.
A expansão do mecenato
A prática do mecenato passou por altos e baixos. A ideia que ganhou espaço durante comando do imperador entrou em declínio na Idade Média, o incentivo à produção cultural e o sustento dos artistas já não era mais tão popular assim.
Um longo tempo se passou até a queda do Império projetado por Otávio. Perto do fim da chamada Baixa Idade Média, o mecenato voltou a ser praticado pela alta cúpula da Igreja Católica. Alguns comerciantes e banqueiros que possuíam dinheiro também passaram a investir novamente nos artistas.
No Renascimento, o mecenato volta a ser “exclusivo” da aristocracia e das famílias reais. Médicis, Sforza, Doria, Borghese, famílias italianas importantes, mantiveram a cultura viva. A prática vai encontrar seu segundo ápice durante o Renascimento Cultural. Na Península Itálica, muitos comerciantes que viviam nas cidades enriqueceram e passaram a contribuir com a atividade dos artistas.
Mas quem teve um papel fundamental para que o mecenato tivesse o seu apogeu foi a Igreja Católica, Urbano VIII, chefe da Igreja, foi um dos grandes patronos das artes. Vale lembrar que nem todos os artistas conseguiam um apoio dos mecenas. Alguns viviam de exposições nas ruas. Inclusive, na época, esse tipo de trabalho não era visto com bons olhos pela classe artística, a exposição era considerada algo inferior, coisa de desempregado.
A maioria dos pintores e escultores preferia uma relação de serviço particular, na qual recebiam dos mecenas um salário de forma regular, como se fossem um trabalhador comum, e com determinada frequência iam até o palácio onde deveriam produzir as obras. Muitos tinham contratos exclusivos.
Esse modelo contratual tinha prós e contras. Os prós estavam relacionados à questão financeira. Os artistas não precisavam temer o inesperado, já que eram pagos regularmente, e podiam contar com favores políticos também. Os contras ficam por conta das cláusulas e exigências contratuais, o que podia envolver o posicionamento da tela, a dimensão das obras, a iluminação do lugar, havia uma certa limitação artística.
Artistas beneficiados pela prática
Muito dos grandes artistas que conhecem altamente foram beneficiados por esse sistema. Nomes como Leonardo Da Vinci, Michelangelo Buonarotti, Sandro Boticelli, Rafael Sanzio e tantos outros, receberam apoio financeiro dos mecenas durante o Renascimento. Michelangelo, por exemplo, foi patrocinado pela Igreja Católica para a construção dos afrescos da Capela Sistina.
Mesmo que a prática tenha sido limitada à aristocracia, é importante destacar também que através dela, a produção cultural foi impulsionada. E não só isso. O período renascentista trouxe grandes reformas, não só para a arte, mas para o campo das ideias também.
Além disso, ao perceber que o incentivo às atividades culturais garantia a projeção política, muitos passaram a destinar recursos financeiros à classe cultural. O conceito não se perdeu ao longo do tempo, no século XIX, com a ascensão da burguesia, muitos que pertenciam a elite seguiram destinando parte do capital financeiro à cultura.
A prática não ficou limitada aos países da Europa. Nos Estados Unidos, nomes de peso investiam ou criavam fundações e museus, como é o caso de Robert Guggenheim e do magnata americano John Davison Rockefeller.
No Brasil, a atividade também ganhou notoriedade através de nomes como o de Assis Chateaubriand, responsável por trazer a Televisão para o Brasil e Francisco Matarazzo Sobrinho, ambos eram conhecidos por sua fortuna e trabalho com filantropia. Grandes investidores das artes, seus legados são reconhecidos mundialmente: o Museu de Artes de São Paulo (MASP) e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).
Tipos de mecenato
O mecenato pode ser caracterizado de várias formas. Tem o mecenato de solidariedade, que faz referência ao patrocínio que é destinado à educação, pesquisa científica, meio ambiente, setores do âmbito social. O mecenato cultural, que, por sua vez, é voltado para atividades culturais, como áreas artísticas, audiovisual, teatro, cinema, música, moda. No Brasil, a Lei Rouanet surgiu como uma forma de garantir esse incentivo às produções e artistas nacionais.
Como dito anteriormente, o mecenato é uma relação de troca. Quando esse incentivo parte de instituições privadas, por exemplo, a ideia, além de promover a cultura, é a de melhorar a imagem da empresa, mostrar que tem preocupação social, ganhar a simpatia da população, é uma jogada de marketing.
Há também o mecenato humanitário, em que as empresas desenvolvem ações sociais, realizam doações, fazem parcerias com ONGs, exercem a filantropia, e muitas vezes esse tipo de atividade garante um retorno, como isenção ou diminuição de impostos. Por último, tem o mecenato de compromisso, que acontece quando as instituições se envolvem em eventos ou campanhas, sem que necessariamente haja um retorno.