Um movimento artístico de cunho político e social
O Muralismo é um movimento artístico que teve origem no México, no início do século XX. A prática, refere-se às pinturas feitas em painéis permanentes ou paredes. Esse tipo de arte que busca se relacionar com a arquitetura é conhecido desde a Antiguidade. A técnica do afresco, utilizada pelos pintores muralistas, também foi usada durante o período do Renascimento e Cubismo.
Mas no muralismo mexicano ela ganha novas características, sendo a principal delas o cunho político e social. O Muralismo surgiu logo após a Revolução Mexicana. Na época em que o país estava sob o controle do ditador Porfirio Díaz, houve vários movimentos e revoltas exigindo mudanças no quadro político. Mestiços, classe média e baixa uniram-se para derrotar o ditador.
Na mudança de governo, algumas resoluções foram incorporadas. Álvaro Obregón, que se tornou o presidente do México entre os anos de 1920 e 1924 foi responsável pela redistribuição de terras para os camponeses e pelo incentivo à educação e à arte. Foi nesse período que os muralistas passaram a receber dinheiro não só para expressar suas habilidades artísticas, mas para utilizá-la como um meio de educar as massas.
Uma arte nacional e popular
A escolha dos pintores pelos murais em grandes dimensões está relacionada ao contexto político e social do país. Após 30 anos de ditadura militar, surge a Revolução Mexicana, que ocorreu entre 1910 a 1920.
Esse movimento revolucionário foi criado a partir de uma aliança entre setores de classes sociais diferentes, camponeses, intelectuais, artistas, classe média, todos, desejavam uma sociedade democrática.
Embora moderna, a nova nação mexicana não deixava os antepassados das antigas civilizações indígenas para trás. Muito pelo contrário, tinham orgulho de seu passado.
Uma das mudanças significativas durante a instituição do novo governo foi nomeação do filósofo e escritor José Vasconcelos como Presidente da Universidade e Ministro da Educação, que desenvolveu o Programa Mural.
O novo ministro tinha objetivos bem definidos: nova política cultural e combate ao analfabetismo. Vasconcelos também foi Secretário de Educação Pública, nesse cargo ele descobriu que 90% da população era analfabeta, por isso os programas de pinturas culturais também tinha o objetivo de fazer as pessoas entenderem a própria história de uma forma mais simples.
Além disso, as artes estavam cheias de narrativas que contavam a história do país, seu passado indígena, o poder revolucionário do povo, a luta contra a opressão, a crítica à ditadura militar. Nesse período foi fundado o Centro Artístico da Cidade do México, um espaço para que os artistas pudessem elaborar seus murais e desenvolver uma arte essencialmente mexicana.
Foi aí que jovens artistas começaram a surgir, nomes como o de Diego Rivera, Roberto Montenegro, David Alfaro Siqueiros e tantos outros. Esses pintores tiravam suas inspirações de povos antigos, como astecas, no folclore mexicano, na arte maia, na cultura popular e também em elementos da vanguarda, principalmente do Expressionismo.
Características do Movimento
Entre os pontos centrais do muralismo mexicano, estão:
Alcance social - a arte devia ser acessível ao povo. Por isso, os artistas utilizavam os morais e iam para lugares públicos em vez de galerias ou museus.
Cultura original – embora tenha influências do expressionismo e outros movimentos artísticos da Europa, o muralismo tinha como principais referências as antigas culturas maia e asteca, o folclore mexicano do período colonial e a arte popular.
Papel didático – diferente da arte acadêmica, praticada no século XIX, o muralismo se comprometia com a educação das massas. Os painéis tinham fortes críticas ao capitalismo e passavam mensagens revolucionárias, em sua maioria, de cunho socialista. As pinturas também revelavam acontecimentos históricos, com a combinação de elementos antigos e mais atuais.
Principais nomes do muralismo mexicano
Cada um dos artistas inseria em suas obras uma ideia diferente e boa parte deles compartilhava o ideal socialista, porém cada um à sua maneira.
Diego Rivera
Diego Rivera pode ser considerado como um dos grandes nomes do muralismo. Em 1923 ele foi chamado por José Vasconcelos para pintar os Murais do Ministério da Educação. O Secretário solicitou pinturas de mulheres vestindo trajes típicos de cada uma das regiões mexicanas, mas o que Rivera entregou foi bem diferente.
Ele optou por pintar o dia a dia dos trabalhadores mexicanos, o trabalho nas minas e usinas de açúcar, o cotidiano da índia tecelã, do lavrador, das oficinas de fundição, do oleiro e ainda acrescentou símbolos da revolução e poemas astecas. Rivera era conhecido por ser um revolucionário e deseja que a arte chegasse às ruas.
José Clemente Orozco
Orozco discordava de alguns artistas do muralismo, mas também acreditava que a arte não podia ser objeto de propaganda, mas um meio de fazer com que as pessoas refletissem e a partir de sua subjetividade ter sua própria interpretação. Ele também era um revolucionário e suas obras eram repletas símbolos e ícones do movimento.
Davi Alfaro Siqueiros
Siqueiros tirava suas inspirações do cubismo e futurismo, sua arte era inovadora. Suas técnicas também se diferenciavam dos demais pintores, ele usava pistola a jato e tintas industriais para pintar as paredes. Sempre escolhia espaços onde pode utilizar toda a área e deixar os painéis completamente pintados. Em busca da modernidade, Siqueiros não produziu pinturas que remetessem à história mexicana, mas, assim como os demais estava comprometido com a revolução. Por isso, suas narrativas também envolviam a luta de classes.
O muralismo mexicano também chegou ao Brasil. As influências do movimento podem ser percebidas nas obras de Di Cavalcanti e Candido Portinari. Trabalhos como Mestiço, de 1934, Mulher com criança, de 1938 e o Lavrador de Café em 1939 são carregadas de cunho político e social.
Os temas nacionais também acompanham o artista na década seguinte, nas décadas de 1940 e 1950, Portinari realizou vários projetos para painéis, como a Catequese em 1941, que foi para a Biblioteca do Congresso em Washington D.C e o Seringueiro, em 1954, encomendada pelos Diários Associados.