O Quilombo dos Palmares foi o maior território habitado por aproximadamente 20 mil negros quilombolas no período do Brasil Colônia.
A palavra “quilombo” existe no Brasil há mais de 450 anos e estava presente em textos escritos pelos colonizadores portugueses desde do século XVI. A palavra se referia a um “grupo de escravos fugidos”.
Contudo, para os moradores que viviam nos quilombos a palavra tinha outro significado: tratava-se de uma organização social para lutar contra o sistema de escravidão do Brasil e defender a liberdade.
Por outro lado, os estudos da historiadora e primeira especialista a estudar os quilombos, Beatriz Nascimento, concluiu que a palavra “quilombo” origina-se dos povos bantus, habitantes da África leste e central, e se referia ao acampamento dos guerreiros Jaga que foram resistentes aos colonizadores europeus.
Desde do Descobrimento do Brasil a relação escravocrata passou a imperar na primeira metade do século XVI nos engenhos, nas vilas e nas cidades coloniais criadas pelos portugueses.
A formação dos quilombos significava ainda a negação deste tipo de sociedade desigual, racista e injusta.
Os primeiros quilombos do continente americano surgiram em meados do século XVI e com vários focos de resistência. Eles se formaram ao longo da História do Brasil até ao final do século XIX, quando houve a abolição da escravatura no Brasil em 1888.
E quem corrobora com a afirmação de resistência dos quilombos são os autores e historiadores João José Reis e Flávio dos Santos Gomes. Eles são autores do livro “Liberdade por um fio”, uma coletânea de estudiosos dos quilombos no Brasil, que afirmam o seguinte:
De todas as formas de resistências a escravidão que existiram no país, a mais emblemática foi a fuga de formação dos quilombos.
Outro estudioso sobre o assunto é o pesquisador e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, Abdias do Nascimento, que participou do 2º Congresso de Cultura Negra das Américas e apresentou a seguinte entendimento sobre “Quilombismo”:
Os quilombos são uma das primeiras experiências de liberdade nas Américas. Eles tinham uma estrutura comunitária baseada em valores culturais africanos. Sua organização política era democrática. Seu modelo econômico era o contrário do modelo colonial.
Em vez de produzir um item só para exportação e depender da matriz imperial, tinham uma produção agrícola diversificada que provia seu próprio sustento e mantinham relações de troca e intercâmbio com as populações circundantes.
Existem alguns registros históricos sobre os quilombos, como antigas cartas, relatórios e leis que descreviam diversas informação. Entre as descrições que constavam nesses registros históricos estavam os tipos das habitações, das plantações, o período de permanência da comunidade no local, os instrumentos utilizados e, às vezes, o quantitativo das pessoas capturadas ou mortas.
E de todos os quilombos que se formaram no país, o que resistiu por mais de um século foi o Quilombo dos Palmares.
Continue lendo esse artigo e conheça mais sobre o quilombo mais famoso da história brasileira.
Como era a vida no Quilombo dos Palmares
A formação do Quilombo dos Palmares foi na divisa dos estados brasileiros de Alagoas e Pernambuco. Precisamente, os quilombolas palmarinos se estabeleceram na região da Serra da Barriga – antiga capitania de Pernambuco.
O nome “palmares” se referia ao tipo predominante de vegetação da região – a palmeira.
Os habitantes em sua maior parte eram negros de origem ética angolana que fugiam da opressão dos senhores escravocratas, conforme dito anteriormente.
Entretanto, muitas populações dos índios brasileiros e brancos pobres juntavam-se aos habitantes do Quilombo dos Palmares.
No período noturno, a iluminação do Quilombo dos Palmares era feita mediante a queima de azeite nas tochas. Essa substância líquida também era utilizada na preparação dos alimentos.
Sociedade
Possivelmente, em razão dos hábitos culturais dos quilombolas palmarinos, alguns estudiosos acreditam que a organização social do Quilombo dos Palmares era semelhante a alguns estados africanos.
Destacou-se na sociedade quilombola o negro Zumbi dos Palmares, que liderou o Quilombo dos Palmares de 1678 a 1695 e tornou-se o símbolo da resistência contra o sistema da colonização portuguesa.
Os habitantes quilombolas residiam em nove núcleos de povoamento chamados de mocambos, que na língua banto significava “esconderijo”.
Cada mocambo era batizado com um nome e agrupava um determinado quantitativo de habitantes. Entre os principais destacavam-se:
- Cerca Real do Macaco
- Subupira
- Zumbi
- Dandara
O principal mocambo era o Cerca Real do Macaco
porque funcionava como um centro político do Quilombo dos Palmares e onde estavam alocadas 1.500 habitações.
Economia
De modo geral, existia uma relação produtiva e democrática que visava a sobrevivência de todos os habitantes.
O principal sustento dos quilombolas palmarinos era a agricultura de subsistência, com o cultivo de milho, banana, feijão, mandioca, laranja e cana-de-açúcar.
Havia também a atividade da caça, da pesca e a criação de animais de pequenos, como galinhas.
A água potável era armazenada em poços feitos pelos próprios quilombolas nos seus mocambos.
Os quilombolas palmarinos ainda estabelecia uma relação de troca dos produtos agrícolas excedentes com as populações vizinhas.
Quilombo dos Palmares: delação, decapitação de Zumbi e fim
Ao longo da sua formação o Quilombo dos Palmares foi ganhando mais números de fugitivos, mais atividades econômicas e, consequentemente, tornou-se uma grande ameaça ao governo colonial.
Por certo, o governo colonial passaria a organizar várias expedições militares para destruir o “reduto” dos negros fugitivos e capturá-los.
Depois de dezoito expedições militares frustradas contra os quilombolas, uma delação colocou o Quilombo dos Palmares próximo do seu fim.
O bandeirante experiente nos atos de extermínio Domingos Jorge Velho e o capitão-mor Bernardo Vieira de Melo foram contratados pelo governador e capitão-general da Capitania de Pernambuco para liderarem a última “cartada” contra os quilombolas.
A estratégia de guerra da expedição militar liderada por esses portugueses contou com seis mil soldados. E, dessa vez, conseguiram prender o quilombola Antônio Soares.
Logo após a prisão, Antônio Soares sofreu forte pressão dos colonizadores. Ele lhes fizeram a promessa de liberdade sob a condição de deletar o local onde Zumbi dos Palmares estava escondido.
Então, depois que o quilombola passou as informações, foi organizada uma emboscada ao líder do quilombo no dia 20 de novembro de 1695.
Muito semelhante às penalidades realidades pela Coroa portuguesa aos líderes da Conjuração Baiana, Zumbi dos Palmares foi executado, decapitado e sua cabeça exposta na praça Pátio do Carmo, na cidade de Recife, como demonstração do poder dos colonizadores.
Sem a sua principal liderança, o Quilombo dos Palmares perdeu as forças e em 1710 chegou ao fim.