O realismo mágico foi uma linha artística que se desenvolveu nas pinturas e na literatura da América Latina, teve seu auge entre os anos de 1960 e 1970, mas deu seus primeiros passos já a partir de 1940.
O estilo artístico, que também pode ser chamado de realismo fantástico ou realismo maravilhoso, surgiu como reação a alguns movimentos. As novas tecnologias e suas influências foram uma das razões para o surgimento do realismo mágico.
Na literatura, o estilo surgiu como forma de reação às repressões feitas por ditaduras da época. O realismo mágico tem como uma das principais características a mistura entre o mundo fantástico, o mágico, com o que é real.
O estilo teve influência no Brasil, mas não teve tanta força, sendo mais forte nos demais países da América Latina. A segunda maior obra hispânica de todos os tempos, “Cem Anos de Solidão”, foi escrita com influência do estilo.
Características do realismo mágico
O realismo mágico era conhecido por unir nas obras elementos fantásticos que muitas vezes faziam parte da imaginação humana, com detalhes e situações comuns da vida real. Essa característica fazia com que os elementos considerados “mágicos” fossem vistos como reais e naturais ou como parte do dia a dia.
Além disso, outra característica do realismo mágico era que os elementos fantásticos das obras não eram explicados. A interpretação dependia da visão do expectador, no caso das pinturas, ou dos leitores, no caso da literatura.
Nas obras do realismo mágico podia-se ver também que o tempo é cíclico, ou seja, relativo, e não de forma linear. Podia-se ver ainda a alteração do tempo, onde o passado é visto como presente ou onde esse se repete.
Surgimento do movimento
O estilo surgiu entre os anos de 1940 e 1950, mas ganhou popularidade a partir dos anos 1950 e 1960. Apesar disso, o termo “realismo mágico” já havia sido usado antes mesmo do início do movimento.
Ele foi usado pela primeira vez em 1925, por Franz Roh, teórico alemão, que se referia a pinturas pós-expressionistas alemães. Mais tarde, em 1928, Arturo Uslar Pietri, um escritor venezuelano, resgatou o texto de Franz Roh, onde ele usava o termo para falar sobre contos de literaturas do seu país.
A variação do termo surgiu quando Alejo Carpetier usou o termo “realismo maravilhoso” na introdução do seu livro, “O Reino deste Mundo”. Ambos os termos eram usados para definir o realismo mágico, porém, os dois se referiam ao mesmo movimento.
Outros aspectos do realismo mágico
Para se entender o realismo mágico, basta pensar que a ideia do movimento era contar uma história onde o sobrenatural, o fantástico ou o inusitado acontecia.
Mas esse mundo onde o mágico acontecia, ou seja, o mundo real, não reagia com choque ou medo a esse evento.
A ideia era justamente ter elementos do sobrenatural inseridos na realidade de forma que as vidas reais dos personagens não fossem alteradas por conta daquele fato. Ao contrário do que se espera do mundo real onde, em casos como esses, geraria um medo, uma hesitação e até um caos.
É perceptível como os personagens das obras lidavam com os acontecimentos como se eles fossem possíveis, comuns ou naturais. Existia alguma alteração na percepção dos personagens, em alguns casos, mas essas reações eram moderadas, tornando as reações quase naturais.
O realismo mágico tinha semelhanças com o fantástico Kafkiano, visto no livro A Metamorfose de Kafka. Mas se diferenciava do estilo, principalmente, pela forma com que os personagens lidavam com o inusitado.
Enquanto na obra de Kafka os personagens reagiam com uma tranquilidade moderada frente ao fantástico e ao inusitado, no realismo mágico havia uma normalidade quase total a isso.
Além disso, a grande característica que tornava o realismo mágico único é que os elementos sobrenaturais presentes na obra faziam parte da cultura daquele lugar onde ele era produzido. Esses elementos podiam estar ligados a cultura local, ao folclore, a superstição, crença, ou outros elementos, característicos daquele lugar.
Essa característica tornava os elementos comuns para aquele povo e, por isso, eles reagem quase totalmente com naturalidade a situação. Já na obra de Kafka, os elementos fantásticos inseridos, não faziam, necessariamente, parte da cultura daquele lugar.
Cem Anos de Solidão
Uma das obras literárias latino-americanas mais famosas foi escrita com influência do realismo mágico. “Cem Anos de Solidão” foi criado pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez, e hoje é uma das obras mais traduzidas do mundo.
A obra foi publicada em maio de 1967 em Buenos Aires, na Argentina, com uma tiragem inicial de 10 mil exemplares. Ao longo dos anos, a obra já vendeu cerca de 50 mil cópias.
A obra de Gabriel García Márquez foi considerada a segunda maior obra da literatura hispânica, ficando atrás apenas de livro “Dom Quixote de la Mancha”, do escritor espanhol Miguel de Cervantes.
Realismo mágico no Brasil
O realismo mágico no Brasil não teve a mesma aderência que teve em outros países da América Latina. Por conta disso, o país teve poucos representantes do estilo.
Porém, já no ano de 1940, era possível ver que o escritor mineiro Murilo Rubião inaugurou o estilo no país, onde trazia para as suas histórias inspirações como mitologias e até a Bíblia.
Murilo Rubião publicou outras obras com influência do estilo, entre elas estão:
• O convidado;
• A casa do girassol vermelho;
• O homem de boné cinzento e outras histórias;
• Os dragões e outros contos;
• O ex-mágico da taberna minhota, e;
• O pirotécnico Zacarias.
Outro importante nome do realismo mágico no país foi José J. Veiga. O escritor goiano trazia nas suas obras a fantasia característica do estilo, e embora narrasse histórias mágicas, as críticas políticas estavam presentes.
O escritor também teve outras obras publicadas que foram escritas com características do realismo mágico. Algumas delas foram:
• O professor Burim e as Quatro Calamidades;
• Os cavalinhos de Platiplanto;
• A máquina extraviada, e;
• A hora dos ruminantes.