Um saber adquirido através de experiências
O Senso Comum e a filosofia
No contexto filosófico o senso comum sempre esteve presente. Grandes filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles desenvolveram vários escritos para abordar esse questão. Dentro da filosofia clássica, o termo “senso comum” faz referência às experiências inerentes à condição humana, como a dor e o sofrimento. São esses elementos que desenvolvem a capacidade de refletir, de saber que podem morrer, ficar doente, sofrer por causa de acidentes.
Essas experiências, que fazem os seres humanos compreenderem sua condição de seres finitos e passíveis a todos os tipos de tragédias, os previne e os orienta, para que não continuem a cometer os mesmos erros dos tempos passados. Da mesma forma, as experiências ajudam a produzir paciência, prudência, controle emocional. Esse conjunto pode ser entendido também como o senso comum, um tipo de bagagem adquirida através das vivências pessoais.
Esse conceito teve uma desvalorização durante o período do Renascimento. A partir do século XVII, com o desenvolvimento da ciência moderna e do pensamento cartesiano, o senso comum, que não tinha um critério metodológico e nem podia ser explicado cientificamente, passou a perder espaço para o senso crítico e a ciência. A partir do século XX, ele foi caindo em desuso e acabou perdendo seu valor e sentido tradicional.
Senso comum x senso crítico
Uma dos aspectos do senso comum é que todas as pessoas são capazes de produzir esse tipo de conhecimento, o que acaba sendo um grande problema também. Como ele não depende de estudos ou metodologia, não é possível determinar se aquele aprendizado é verdadeiro. Um dos grandes problemas que o conhecimento baseado no senso comum pode causar é o preconceito.
Muitas opiniões racistas, machistas, xenofóbicas são pautadas em discursos que foram passados de geração em geração, e eles têm base na sabedoria popular. Por exemplo, existe um senso comum de que os asiáticos são dotados de uma inteligência diferente dos demais. Da mesma forma, existe a ideia de que o homem negro tem uma força maior que a dos demais. Essas narrativas são fundamentadas no conhecimento empírico e atravessam culturas, formando um estereótipo.
Mas ao mesmo tempo que o senso comum pode ser negativo, também traz benefícios. Antônio Gramsci, filósofo italiano, acreditava que a troca de experiências e vivências entre as pessoas seria uma forma de compartilhar novos conhecimentos, além de relacioná-los aos acontecimentos anteriores.
O argumento de Gramsci foi duramente criticado por outros autores como Auguste Comte. Comte era um defensor do positivismo e acreditava que a ciência era a melhor fora de se atingir o conhecimento. Para ele, o ser humano conseguiria evoluir socialmente se deixasse de lado os conceitos pré-estabelecidos pelo senso comum e os substituísse pelos métodos científicos e pela racionalidade.
Atualmente, sabemos que a ciência, a pesquisa, o método, a comprovação, são etapas essenciais para que se possa chegar ao conhecimento verdadeiro, mas o senso comum não deve ser desprezado, pois ele é fruto da sabedoria popular.