Resolver o Simulado Técnico - Enfermagem - IBAM - Nível Médio

0 / 20

Enfermagem

1

A Tuberculose é um problema de saúde prioritário no Brasil. O agravo atinge a todos os grupos etários, com maior predomínio nos indivíduos economicamente ativos (15 - 54 anos) e do sexo masculino.
Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs
Sobre a tuberculose, assinale a alternativa INCORRETA.

  • A A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada por um protozoário.
  • B A tuberculose consiste em uma doença infecciosa, que atinge, principalmente, o pulmão.
  • C O tratamento da Tuberculose deve ser feito em regime ambulatorial, supervisionado, no serviço de saúde mais próximo à residência do doente.
  • D A Tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente, através do ar.
2

A respeito da dengue, assinale a alternativa correta.

  • A O período de incubação é de 48 h a 96 h.
  • B O agente causador da patologia é o mosquito palha.
  • C A dengue é uma doença infecciosa febril aguda causada por um vírus que pertence à família Flaviviridae
  • D O Aedes aegypti é o mosquito incubador e transmissor da dengue; a bactéria responsável por essa patologia se desenvolve e amadurece dentro do mosquito, antes de ser transmitida.
  • E O vírus é transmitido para humanos por meio da picada de mosquitos machos infectados.
3

Em aulas do ensino de Biologia, é comum o uso de peças anatômicas de animais previamente identificados como sadios para o estudo da sua morfologia e fisiologia e que, por não poderem ser reaproveitadas, precisam ser descartadas ao fim da aula. Segundo a legislação vigente que regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, que se aplica aos laboratórios de ensino e pesquisa, a maneira correta de descarte desse material é 

  • A armazenar a peça anatômica em recipientes contendo formalina 20% até que seja providenciada a retirada para incineração pelo órgão sanitário competente. 
  • B autoclavar a peça anatômica e acondicioná-la em sacos vermelhos destinados ao descarte por órgão sanitário competente.
  • C acondicionar o material biológico utilizado nas aulas em saco branco leitoso identificado com a inscrição "PEÇAS ANATÔMICAS DE ANIMAIS" e encaminhar para o descarte em local adequado para a coleta pelo órgão especializado para esse fim. 
  • D como lixo comum, pois se trata de material oriundo de animal sadio e, portanto, não infectante. 
  • E em caixas de papelão rígido, identificadas, providas com tampa, resistentes a vazamento.
4

Quando se realiza a manipulação de fezes de animais contaminados por parasitas intestinais, para fins de descartes segundo a legislação pertinente, esse material deve ser considerado como resíduos de serviços de saúde do grupo 

  • A A - resíduo biológico proveniente de animais utilizados em laboratórios de ensino ou pesquisa.
  • B B - resíduo biológico proveniente de laboratório de análises clínicas. 
  • C C - material biológico com presença confirmada de patógenos. 
  • D D - contém agentes biológicos com potencial risco de infecção. 
  • E E - material biológico assemelhado ao proveniente de laboratório de análises clínicas.
5

Em algumas aulas do ensino de Biologia, certas substâncias não podem ser descartadas na rede de esgoto, como é o caso de 

  • A ácidos inorgânicos.
  • B soluções salinas contendo cátions que podem ser precipitados como hidróxidos, carbonatos e sulfatos. 
  • C precipitado de sulfetos sujeito a oxidação por hipoclorito de sódio.
  • D acetona, benzeno, éter etílico, tolueno e xileno. 
  • E bases inorgânicas.
6
Úlcera por pressão, ferida por pressão, úlcera de decúbito e ferida do leito são termos usados para descrever o comprometimento da integridade da pele relacionado com pressão sem alívio e prolongada. O técnico de enfermagem deve estar atento a qualquer sinal de formação dessa lesão, considerada um dos eventos adversos mais comuns em internamentos hospitalares. Em relação ao tema, é correto afirmar:
  • A A evolução da úlcera por pressão costuma ser lenta, o que favorece o tratamento caso seja avaliado desde seu estágio inicial.
  • B A presença e a duração da umidade na pele reduzem o risco de formação da úlcera, pois melhoram aspectos da circulação sanguínea na região.
  • C Faz parte da avaliação da ferida a análise do exsudato, pois sua presença indica a evolução para uma boa cicatrização.
  • D O banho, a troca de decúbito e o exame físico são considerados os momentos mais adequados para que o técnico de enfermagem desenvolva uma observação minuciosa acerca de qualquer evidência de início de úlcera por pressão.
  • E O técnico de enfermagem deve comunicar à equipe médica, responsável pelo curativo, caso perceba a presença de fatores associados ao risco para formação da úlcera por pressão.
7
O Programa Nacional de Imunização (PNI) do Brasil é um dos maiores do mundo, oferecendo 45 diferentes imunobiológicos para toda a população. Há vacinas destinadas a todas as faixas etárias e campanhas anuais para atualização da caderneta de vacinação.
Com base no texto acima e nos conhecimentos de vacinas e imunobiológicos, assinale a alternativa correta.
  • A Quanto à vacina contra a COVID-19 para adultos de 40 a 59 anos de idade não incluídos no grupo prioritário recomendado para receber as vacinas bivalentes, o esquema vacinal é composto por duas doses (1.ª dose + 2.ª dose) e duas doses de reforço (1.º reforço + 2.º reforço).
  • B A vacina contra formas graves da tuberculose deve ser administrada preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida do bebê, ainda na maternidade.
  • C As gestantes que não foram vacinadas durante o período gestacional deverão tomar 3 doses de dT até o final do período puerperal.
  • D A vacina contra a febre amarela deve ser aplicada em crianças de 9 meses a 4 anos de idade, pessoas com 60 anos ou mais que nunca foram vacinadas contra febre amarela e gestantes com até 20 semanas de gestação.
  • E Poliomielite, influenza, febre amarela e COVID-19 fazem parte das vacinas que compõem as campanhas nacionais de vacinação.
8
No que se refere ao cuidado prestado pelo técnico de enfermagem a pacientes cirúrgicos, assinale a alternativa correta. 
  • A O paciente submetido a procedimentos cirúrgicos deve receber os mesmos cuidados de enfermagem pós-anestésicos, independentemente de qual anestesia recebeu.
  • B Antes de liberar o paciente para a cirurgia, o técnico de enfermagem deve solicitar ao familiar do paciente que seja realizada a higiene corporal, retiradas maquiagens, esmaltes, lentes de contato, óculos e próteses de qualquer natureza, além de passar sonda vesical de alívio para garantir o esvaziamento da bexiga.
  • C Dependendo da cirurgia, alguns pacientes não recuperam o controle voluntário sobre a função urinária em 6 a 8 horas após a anestesia, portanto recomenda-se que o técnico de enfermagem realize a sondagem vesical de demora nas primeiras 48 horas pós-cirúrgicas.
  • D O cuidado prestado ao paciente cirúrgico com foco na sua segurança está relacionado às ações do técnico de enfermagem no momento intraoperatório, com vistas à adequação e supervisão das técnicas assépticas por todos os profissionais envolvidos.
  • E O técnico de enfermagem deve estar alerta aos sinais de complicações pós-operatórias como hemorragia, trombose, distensão abdominal, retenção urinária, infecções na incisão cirúrgica e dor, devendo comunicar a situação à equipe imediatamente.
9
No que se refere ao Suporte Básico de Vida (SBV), assinale a alternativa correta.
  • A A manobra de massagem cardíaca é a primeira ação a ser feita de acordo com a cadeia de sobrevivência em ambiente intra-hospitalar.
  • B Considera-se muito importante o uso do Desfibrilador Externo Automático (DEA) para identificar se o paciente está recebendo o suporte adequado de oxigênio.
  • C A qualidade das massagens cardíacas é avaliada segundo a força e velocidade das compressões, sendo adequado comprimir 5 cm do tórax na velocidade de 100 a 120 compressões por minuto.
  • D O SBV é realizado por profissionais de saúde devidamente capacitados em situações em que o paciente se encontra desacordado e sem sinais de resposta a comandos.
  • E O uso de drogas vasoativas como a adrenalina e a amiodarona faz parte do segundo elo de ação de acordo com a cadeia de sobrevivência em ambiente intra-hospitalar.
10
A respeito das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), assinale a alternativa correta.
  • A Os principais fatores de risco para as DCNT são: tabagismo, consumo excessivo de álcool, alimentação não saudável e sedentarismo.
  • B Os quatro principais grupos de doenças crônicas são: cardiovasculares, cânceres, diabetes e doenças neurodegenerativas.
  • C Segundo o Plano de Ação para redução das DCNT, é atribuição do técnico de enfermagem monitorar e avaliar pacientes com qualquer fator de risco para as DCNT no serviço de saúde.
  • D A visita domiciliar é considerada o meio mais efetivo para o controle dos índices de doenças crônicas, pois nela se identificam hábitos e rotinas dos pacientes com maior efetividade.
  • E As metas estabelecidas pelo Ministério da Saúde para conter os altos índices de DCNT no Brasil envolvem: redução de obesidade em adultos e idosos, aumentar consumo de carnes e derivados, aumentar a cobertura vacinal em idosos e proibir o consumo de álcool e cigarros.

Português

11

Em todas as frases a seguir há um termo sublinhado. Se deslocarmos esse termo para o lugar na frase marcado por um asterisco (*), não vamos precisar empregar vírgulas em

  • A Nenhum homem (*) adquire propriedade sem aprender aritmética.
  • B (*) Não basta saber falar para ser gente.
  • C (*) Tenho elementos de candomblé apesar de ser cartesiano.
  • D Até um imbecil (*) passa por inteligente se ficar calado.
  • E Tudo (*) é enigma e problema atualmente.
12
   José Dias tratava-me com extremos de mãe e atenções de servo. A primeira cousa que consegui, logo que comecei a andar fora, foi dispensar-me o pajem; fez-se pajem, ia comigo à rua. Cuidava dos meus arranjos em casa, dos meus livros, dos meus sapatos, da minha higiene e da minha prosódia. Aos oito anos os meus plurais careciam, alguma vez, da desinência exata, ele a corrigia, meio sério para dar autoridade à lição, meio risonho para obter o perdão da emenda. Ajudava assim o mestre de primeiras letras. Mais tarde, quando o Padre Cabral me ensinava latim, doutrina e história sagrada, ele assistia às lições, fazia reflexões eclesiásticas, e, no fim, perguntava ao padre: “Não é verdade que o nosso jovem amigo caminha depressa?” Chamava-me “um prodígio”; dizia a minha mãe ter conhecido outrora meninos muito inteligentes, mas que eu excedia a todos esses, sem contar que, para a minha idade, possuía já certo número de qualidades morais sólidas. Eu, posto não avaliasse todo o valor deste outro elogio, gostava do elogio; era um elogio.

(Machado de Assis, Dom Casmurro)

No texto, o sinal indicativo da crase poderia ser empregado no termo destacado em:

  • A ... os meus plurais careciam, alguma vez, da desinência exata, ele a corrigia...
  • B ... para a minha idade, possuía já certo número de qualidades morais sólidas.
  • C ... mas que eu excedia a todos esses...
  • D ... dizia a minha mãe ter conhecido outrora meninos muito inteligentes...
  • E A primeira cousa que consegui logo que comecei a andar fora...
13

Leia o Texto para responder a questão.


Questão de pontuação

João Cabral de Melo Neto


Todo mundo aceita que ao homem

cabe pontuar a própria vida:

que viva em ponto de exclamação

(dizem: tem alma dionisíaca).


Viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora e poesia):

viva equilibrando-se entre vírgulas

e sem pontuação (na política);


O homem só não aceita do homem

que use só a pontuação fatal:

que use, na frase que ele vive,

o inevitável ponto final.

Disponível em: <https//peregrinacultural.wordpress.com/2011/02/08/questao-de-pontuacao-poema-de-joao-cabral-de-melo-neto/>.Acesso em 25 mai.

Na oração "o homem só não aceita do homem/que use só a pontuação fatal/que use, na frase que ele vive/o inevitável ponto final". O trecho entre vírgulas é uma locução adverbial de 

  • A modo
  • B lugar
  • C afirmação
  • D tempo
14

Aos poetas clássicos

Patativa do Assaré


Poetas niversitário,

Poetas de Cadenia,

De rico vocabulário

Cheio de mitologia,

Se a gente canta o que pensa,

Eu quero pedir licença.

Pois mesmo sem português

Neste livrinho apresento

O prazê e o sofrimento

De um poeta camponês

Disponível em <https//www.jornaldepoesia.jor.br/antonio3html> Acesso em 03 mai 2023



Na sequência "Poetas niversitário/Poetas de Cademia", o uso da vírgula separa dois elementos linguisticos de mesma natureza sintática, qual seja,

  • A aposto.
  • B vocativo.
  • C agente de passiva.
  • D adjunto adverbial.
15

Considerando-se as palavras “foco”, “apreender”, “atrair”, “assimilar” e “suscitar”, quantas são classificadas como trissílabas (três sílabas)?

  • A Somente uma palavra. 
  • B Somente duas palavras.
  • C Somente três palavras.
  • D Todas as palavras
16
Texto 1

Leia o texto a seguir:

Carros da Ford voltarão sozinhos para a loja se o dono deixar de pagar

Patente registrada pela Ford permite que veículos autônomos "abandonem" seus donos em caso de inadimplência e retornem para a concessionária

A Ford norte-americana trabalha em um projeto, segundo detalhes da revista Car and Driver, de um sistema que permite aos carros da marca voltarem às lojas sozinhos, em caso de não pagamento das dívidas de seus donos.

O sistema, ativado à distância, permite ao carro "abandonar o dono", e, com isso, dirigir-se por conta própria até a casa do proprietário. A depender da situação da dívida, o carro pode voltar para a concessionária sozinho, até que se paguem as parcelas.

Esse sistema não é novidade para a montadora. Dados do Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos mostram que a Ford fez o registro dessa patente em 2021, mas só agora obteve resposta. Desse modo, só assim poderá prosseguir com o desenvolvimento.

Mas é importante dizer que o sistema, que vai funcionar em carros autônomos e semiautônomos da Ford, não retoma o veículo por qualquer motivo. Alertas chegam ao motorista e, caso não gerem resposta, podem desligar itens importantes, como, por exemplo, ar-condicionado, rádio e vidros elétricos. A depender do caso, o motor também será desligado.

Aliás, caso o valor de recompra não seja o suficiente para cobrir a dívida, o carro pode até ir por conta própria para um ferro-velho. Entretanto, a tecnologia ainda está distante da realidade. Ainda é necessário avançar na melhoria dos sistemas autônomos, para que só assim seja possível retomar os veículos sem ninguém ao volante. Ou seja, ainda há um bom tempo até que os carros da Ford voltem sozinhos para as concessionárias por falta de pagamento.

Fonte: https://jornaldocarro.estadao.com.br/carros/carros-da-ford-voltaraosozinhos-para-a-loja-se-o-dono-deixar-de-pagar/. Acesso em 27/03/2023

No trecho “A depender da situação da dívida, o carro pode voltar para a concessionária sozinho, até que se paguem as parcelas” (2º parágrafo), o verbo está no:

  • A imperativo negativo
  • B imperativo afirmativo
  • C presente do indicativo
  • D presente do subjuntivo
  • E pretérito mais-que-perfeito do indicativo
17

Leia atentamente o texto abaixo e responda a questão proposta.


MEU MELHOR CONTO

Moacyr Scliar

Você me pergunta qual foi o melhor conto que escrevi. Indagação típica de jovens jornalistas; vocês vêm aqui, com esses pequenos gravadores, que sempre dão problema, e uma lista de perguntas - e aí querem saber qual foi o melhor ponto que a gente fez, qual provocou maior controvérsia, essas coisas. Mas tudo bem: não vou me furtar a responder essa questão. Dá mais trabalho explicar por que a gente não responde do que simplesmente responder.

Meu melhor conto... Não está em nenhum dos meus livros, em nenhuma antologia, em nenhuma publicação. Ele está aqui, na minha memória; posso acessá-lo a qualquer momento. Posso inclusive lembrar as circunstâncias em que o escrevi. Não esqueci, não. Não esqueci nada. Mesmo que quisesse esquecer, não o conseguiria.

Eu era então um jovem escritor - faz muito tempo, portanto, que isso aconteceu. Estava concluindo o curso de Letras e acabara de publicar meu primeiro livro, recebido com muito entusiasmo pelos críticos. É uma revelação, diziam todos, e eu, que à época nada tinha de modesto, concordava inteiramente: considerava-me um gênio. Um génio contestador. Minhas histórias estavam impregnadas de indignação; eram verdadeiros panfletos de protesto contra a injustiça social. O que me salvava do lugar-comum era a imaginação - a imaginação sem limites que é a marca registrada da juventude literária e que, como os cabelos, desaparecem com os anos.

Mas eu não era só escritor. Era militante político. Fazia parte de um minúsculo, obscuro, mas extremado grupo de universitários. Veio o golpe de 1964, participei em manifestações de protesto, cheguei a pensar em juntar-me à guerrilha - o que certamente seria um-desastre, porque eu era um garoto de classe média, mimado pelos pais, acostumado ao conforto, enfim, uma antípoda do guerrilheiro. De qualquer modo, fui preso.

Uma tragédia. Meus pais quase enlouqueceram. Fizeram o possível para me soltar, falaram com Deus e todo mundo, com políticos, jornalistas e até generais. Inútil. O momento era de linha dura, linha duríssima, e eu estava em mais de uma lista de suspeitos. Não me soltariam de jeito nenhum.

Fui levado para um lugar conhecido como Usina Pequena. Havia duas razões para essa denominação. Primeiro, o centro de detenção ficava, de fato, perto de uma termelétrica. Em segundo lugar, o método preferido para a tortura era, ali, o choque elétrico.

O chefe da Usina Pequena era o Tenente Jaguar. Esse não era o seu verdadeiro nome, mas o apelido era mais que o apropriado: ele tinha mesmo cara de felino, e de felino muito feroz. Ao sorrir, mostrava os caninos enormes - e isso era suficiente para dar calafrios nos prisioneiros.

Fiquei pouco tempo na Usina Pequena, quinze dias. Mas foi o suficiente. Da cela que eu ocupava, um cubículo escuro, úmido, fétido, eu ouvia os gritos dos prisioneiros sendo torturados e entrava em pânico, perguntando-me quando chegaria a minha vez. E aí uma manhã eles vieram me buscar e levaram-me para a chamada Sala do Gerador, o lugar das torturas, e ali estava o Tenente Jaguar, à minha espera, fumando uma cigarrilha e exibindo aquele sorriso sinistro. Leu meu prontuário e começou o interrogatório. Queria saber o paradeiro de um dos meus professores, suspeito de ser um líder importante na guerrilha.

Tão apavorado eu estava que teria falado - se soubesse, mesmo, onde estava o homem. Mas eu não sabia e foi o que respondi, numa voz trémula, que não sabia. Ele me olhou e estava claramente decidindo se eu falava a verdade ou se era bom ator. Mas ali a regra era: na dúvida, a tortura. E eu fui torturado. Choques nos genitais, o método clássico. No quarto choque, desmaiei, e me levaram de volta para a cela.

Durante dois dias ali fiquei, deitado no chão, encolhido, apavorado. No terceiro dia o carcereiro entrou na sala: o Tenente queria me ver. Implorei para que não me levasse: eu não aguento isso, vou morrer, e vocês vão se meter em confusão. Ignorando minhas súplicas, arrastou-me pelo corredor, mas não me levou para o lugar das torturas, e sim para a sala do Tenente. O que foi uma surpresa. Uma surpresa que aumentou quando o homem me recebeu gentilmente, pediu que sentasse, ofereceu-me um chá. Perguntou se eu tinha me recuperado dos choques; e aí - eu cada vez mais atônito - pediu desculpas: eu tinha de compreender que torturar era a função dele, e que precisava cumprir ordens.

Ficou um instante olhando pela janela - era uma bela manhã de primavera - e depois voltou-se para mim, anunciando que tinha um pedido a me fazer.

Àquela altura eu não entendia mais nada. Ele tinha um pedido a me fazer? O todo-poderoso chefe daquele lugar? O cara que podia me liquidar sem qualquer explicação tinha um pedido? Estou às suas ordens, eu disse, numa voz sumida, e ele foi adiante. Eu sei que você é escritor, e um escritor muito elogiado.

Está na sua ficha - acrescentou, sorridente. - Nós aqui temos todas as informações sobre sua vida.

Olhou-me de novo e acrescentou:

- Tem uma coisa que eu queria lhe mostrar.

Abriu uma gaveta e tirou de lá um recorte de jornal. Era uma notícia sobre um concurso de contos. Cada vez mais surpreso, li aquilo e mirei-o sem entender. Ele explicou.

Eu escrevo. Contos, como você. Mas tenho de admitir: não tenho um décimo do seu talento. Nova pausa, e continuou:

Quero ganhar esse concurso literário. Melhor, preciso ganhar esse concurso literário. Não me pergunte a razão, mas é muito importante para mim. E você vai me ajudar. Vai escrever um conto para mim. Posso contar com você, não é?

E então aconteceu a coisa mais surpreendente. Eu disse que não, que não escreveria merda nenhuma para ele.

Tão logo falei, dei-me conta do que tinha feito - e fiquei a um tempo aterrorizado e orgulhoso. Sim, eu tinha ousado resistir. Sim, eu tinha mostrado a minha fibra de revolucionário. Mas, e agora? E os choques?

Para meu espanto, o homem começou a chorar. Chorava desabaladamente, como uma criança. E então me explicou: quem tinha mandado aquele recorte fora o seu filho, um rapaz de catorze anos que adorava o pai, e adorava as histórias que o pai escrevia

- Ele quer que eu ganhe o concurso, o meu filho o Tenente, soluçando. E eu quero ganhar o concurso. Para ele. É um rapaz muito doente, talvez não viva muito. Eu preciso lhe dar essa alegria. E só você pode me ajudar.

Olhava-me, as lágrimas escorrendo pela face.

O que podia eu dizer? Pedi que me arranjasse uma máquina de escrever e umas folhas de papel.

Naquela tarde mesmo escrevi o conto. Nem precisei pensar muito; simplesmente sentei e fui escrevendo. A história brotava de dentro de mim, fluía fácil. E era um belo conto, diferente de tudo o que eu tinha escrito até então. Não falava em revolta, não satirizava opressores. Contava a história de um pai e de seu filho moribundo.

Entreguei o conto ao Tenente, que o recebeu sem dizer palavra, sem sequer me olhar. E no dia seguinte fui solto.

Nunca fiquei sabendo o que aconteceu depois, o resultado do concurso, nada disso. Não estava interessado; ao contrário, queria esquecer a história toda, e inclusive o conto que eu tinha escrito. O que foi inútil. A narrativa continuava dentro de mim, como continua até hoje. Se eu quisesse, poderia escrevê-la de uma sentada.

Mas não o farei. Esse conto não me pertence. É, acho, a melhor coisa que escrevi, mas não me pertence. Pertence ao Tenente, que esses dias, aliás, vi na rua: um ancião alquebrado, que anda apoiado numa bengala.

Ele me olhou e sorriu. Talvez tivesse, com gratidão, lembrado aquele episódio. Ou talvez estivesse debochando de mim. Com esses velhos torturadores, a gente nunca sabe.

(Porto Alegre, 2003.)

Conto de Moacyr Scliar publicado no livro "Do conto à crônica".

Assinale a alternativa CORRETA em que todas as palavras foram formadas a partir do mesmo processo de derivação, observado na palavra aterrorizado.

  • A Envergonhado, enlouquecer, apropriado, acostumado.
  • B Simplesmente, inteiramente, desaparecer, indignação.
  • C Desabaladamente, apavorado, inútil, paradeiro.
  • D Prisioneiro, cubículo, cigarrilha, injustiça.
18
Você sabe como a relação entre um cão e um humano é construída?

        Pesquisadoras da USP acreditam que a capacidade do animal entender expressões humanas é um dos pontoschave para esse relacionamento. O artigo da professora Briseida Dôgo de Resende e da pesquisadora Natalia Albuquerque, ambas do Instituto de Psicologia (IP) da USP, discute as habilidades de percepção de emoções de cães, como essa percepção é utilizada por eles e traz sugestões para investigações futuras, como a da personalidade, dos níveis de apego com o cachorro e de fatores demográficos.
        O artigo Dogs functionally respond to and use emotional information from human expressions, publicado na revista Evolutionary Human Sciences, é uma revisão sistemática, ou seja, quando os autores apresentam discussões e ________ com base na literatura científica existente sobre o tema. Natalia conta que foram usadas 61 referências, escolhidas de acordo com a relevância na área.
        A professora Briseida explica que o desenvolvimento da capacidade dos cachorros de entender as expressões humanas pode ser pensado em dois momentos: durante a evolução da espécie e durante a história individual de cada cão. “A seleção natural pode ter atuado no sentido de favorecer a sobrevivência de cães mais _______ para aprender sobre as expressões das emoções dos humanos”, explica. No entanto, ela ressalta que ainda não é possível dizer exatamente como essa evolução ocorreu. Mas, ao se aproximar dos tutores, o cachorro passa a reconhecer as emoções e vai se _________ a elas.
        Os cães não apenas reconhecem as emoções humanas, mas também entendem as consequências disso e respondem de acordo com cada expressão. “Essas habilidades foram críticas para a aproximação das duas espécies, para o estabelecimento de laços e para a manutenção dos relacionamentos. Hoje em dia, dividimos nossas vidas com animais que são sintonizados a nós e que podem nos compreender”, diz Natalia Albuquerque.
(Fonte: Jornal da USP - adaptado.) 

Assinalar a frase em que a palavra homônima sublinhada está empregada de forma INCORRETA:

  • A O prefeito dirigiu os cumprimentos aos familiares das vítimas.
  • B Conforme esperado, delatou o empregador.
  • C Com cuidado, guardou todos os alimentos na dispensa da cozinha.
  • D O juiz absolveu o réu.
19

Imagem relacionada à questão do Questões Estratégicas

Imagem relacionada à questão do Questões Estratégicas

A palavra destacada atende às exigências de concordância de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa em:

  • A A administração de empresas de tecnologia e o marketing profissional estão envolvidos na promoção de novos negócios na área econômica.
  • B A assistência social às pessoas carentes e os cuidados com o aparecimento de novas doenças são necessárias para manter a saúde da população.
  • C A iniciativa de implementar mudanças nas empresas e o sucesso ao alcançar êxito são comemoradas pelos funcionários.
  • D O financiamento de projetos e a assistência aos necessitados, desejadas pelos empreendedores sociais, precisam da atenção redobrada dos responsáveis.
  • E A vacinação de toda a população e a intensificação dos estudos sobre a pandemia devem ser implementados pelas autoridades. 
20
  • Texto CGIAI-I


  • Nem mais como tema literário serve ainda esse assunto de seca. Já cansou quem escreve, cansou quem lê e cansou principalmente quem o sofre. Parece mesmo que cansou o próprio Deus Nosso Senhor, pois que afinal, repetindo um gesto sucedido há exatamente um século (o último diz a tradição que foi em 1851), contra todos os cálculos, contra todas as experiências, ultrapassando os otimismos mais alucinados, fez começar um inverno no Nordeste durante a primeira quinzena de abril.


    Eu estava lá Assisti mais uma vez à mágica transformação do deserto em jardim do paraíso. E vendo o céu escurecer bonito, depois de tantos meses de desesperança, os compadres diziam que eu lhes levara o inverno nas malas. O fato é que, durante a viagem de ida, enquanto o "Constellation" da Panair voava por cima do colchão compacto de nuvens carregadas de água, me dava uma vontade desesperada de rebocá-las todas, lá para onde tanta falta faziam, levá-las como rebanho de golfinhos prisioneiros e despejá-las em cheio sobre os serrotes do Quixadá.


    Pois choveu, Encheram-se os açudes, as várzeas deram nado, os rios subiram de barreira a barreira.


    Mas ninguém espere muito de um inverno assim tardio. Já se agradece de joelhos o pasto aparentemente garantido, o gado salvo. Mas não se espera que haja milho. Talvez feijão, desse precoce que dá em dois meses. E o algodão aguenta, provavelmente. Nada mais.


Rachel de Queiroz. Choveu (com adaptações)

Assinale a opção que apresenta uma proposta de reescrita que preserva a correção gramatical e o sentido do seguinte trecho primeiro parágrafo do texto CGIAl-I: "(o último diz a tradição que foi em 1851)".

  • A (a tradição diz que, foi em 1851, o último gesto)
  • B (segundo a tradição, o último gesto foi em 1851)
  • C (o último gesto diz que a tradição foi em 1851)
  • D (em 1851, foi quando a tradição disse o último gesto)
  • E (o último século, a tradição diz, foi em 1851)